sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

One by one


Porque todos temos uma vida cheia de responsabilidades, para com família, trabalho e todas as variantes de uma vivência social que exige uma série de interacções, de vez em quando acontece, não temos tempo para executar o conjunto de posturas que aprendemos na escola. O que fazer? Não praticar nesse dia ou praticar menos?

Qualquer professor de Ashtanga Vinyasa Yoga que tenha frequentado o KPJAYI, em Mysore, afirmará que todos devem praticar até á última postura que receberam, que não devem omitir posturas, especialmente aquelas que menos gostam ou que custam mais, que não devem adicionar posturas que não vos foram ensinadas, que devem esperar na última postura que receberam e só avançam para a próxima quando o professor vos ensinar, que há um respeito a ser mantido em relação ao vosso professor e ao sistema de yoga que estão a praticar.

Nos dias que o tempo é escasso deverão praticar, mesmo que seja menos. Se não sabem o que praticar quando têm menos tempo, lembrem-se que o método correcto de ensino e prática do Ashtanga Vinyasa Yoga, assenta na prática da sequência sem omissões e adições de posturas

Mantenham a base das séries, respeitando a sua ordem precisa e de acordo com o vosso tempo pratiquem, os surya nasmaskar A e B (3 ou 5 ciclos), prossigam para as posturas de pé, podem parar em Parsvottanasana (as mãos unidas entre as omoplatas), passam para as posturas finais e o descanso (mais ou menos de 5 minutos) e terão uma prática de 30 minutos. Se ainda têm disponibilidade então façam todas as posturas de pé (até Virabhadrasana B), mais as posturas finais e o descanso, resultando numa prática de 45 minutos. De acordo com o tempo vão aumentando as posturas, mas sem invenções ou seja, seguindo a ordem desta, o sistema está estabelecido para que cada postura prepara a próxima.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Ashtanga Way mas sem pressão


Sharath Rangswamy, neto do Guruji (1915-2009), continua a acentuar que esta prática deve ser feita 6x por semana, com um dia de descanso, normalmente ao sábado e com pausa nos dias de lua nova e lua cheia. Que as séries de posturas têm uma ordem precisa, onde a anterior prepara a próxima e que é esperado que o aluno as pratique como lhe foi ensinado, sem omissões ou adições de asanas. Que o método foi concebido como prática diária, que prepara o corpo para um controlo da mente e que pela respiração e pelas posturas, o sadhaka (praticante) vai desenvolvendo uma relação mais sincera consigo mesmo, com os outros e com o que o rodeia.

Seguindo este caminho, o praticante vai adquirindo um maior compromisso, dedicação e disciplina para com a prática, mas estas características não são impostas pelo professor nem pelo próprio método, o professor apenas mostra como este sistema de Yoga funciona e o método é descrito sem estar assente em dogmas ou sem estar delineado por regras rígidas, recorde-se que este tem sido adaptado ao longo dos anos, primeiro por Krishnamacharya, depois pelo Guruji e provavelmente será ajustado pelo próprio Sharath. Não o fizeram porque lhes deu na cabeça, mas porque a investigaram no seu próprio corpo e porque a observaram directamente nos seus alunos. Recorde-se que Krishanamacharya é reconhecido como um dos grandes mestres do Yoga, muito contribuindo para o conhecimento desta filosofia prática e que Pattabhi Jois teve um papel de destaque na difusão mundial do Ashtanga Yoga.

Todos temos diferentes percepções, motivações e resoluções para com esta prática, cabe a cada um decidir o que fazer com ela e como geri-la, mas por outro lado é papel do professor motivar os alunos para uma prática mais regular, sincera e dedicada, sem que isso signifique pressão ou imposição. Porque o professor existe para providenciar luz, mais discernimento, conhecimento, para facilitar, para abrir caminho, mas é sempre o aluno que decide se quer ou não seguir as suas indicações. Existe liberdade, mas terá sempre de haver respeito, respeito para com o professor e para com o sistema de Yoga que pratica.

Ashtanga sim, pressão não.
Método sim, dogma não.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

As fases da Lua e o Ashtanga Yoga



Segundo a tradição de Shri K. Pattabhi Jois (1915-2009) que continua a ser difundida por Sharath Rangwswamy, não se pratica Ashtanga Vinyasa Yoga nos dias de lua nova e lua cheia. O ser humano é maioritariamente constituído por água e como as luas influenciam as marés, acredita-se que estas também terão uma predominância sobre nós. Nestes dias ficamos com uma energia mais instável, que tem implicações no nosso corpo e na nossa mente, criando maior propensão a nos magoarmos durante a prática.

Dias de lua nova e lua cheia em 2011 -
Janeiro -
Lua Nova - dia 4, terça-feira
Lua Cheia - dia 19, quarta-feira

Fevereiro -
Lua Nova - dia 3, quinta-feira
Lua Cheia - dia 18, sexta-feira

Março -
Lua Nova - dia 4, sexta-feira
Lua Nova - dia 19, sábado
Abril -
Lua Nova - dia 3, Domingo
Lua Cheia - dia 18, segunda-feira

Maio -
Lua Nova - dia 3, terça-feira
Lua Cheia - dia 17, terça-feira

Junho -
Lua Nova - dia 1, quarta-feira
Lua Cheia - dia 15, quarta-feira

Julho -
Lua Nova- dia 1, sexta-feira
Lua Cheia - dia 15, sexta-feira
Lua Nova - dia 30, sábado

Agosto -
Lua Cheia - dia 13, sábado
Lua Nova - dia 29, segunda-feira

Setembro -
Lua Cheia - dia 12, segunda-feira
Lua Nova - dia 27, terça-feira

Outubro -
Lua Cheia - dia 12, quarta-feira
Lua Nova - dia 26, quarta-feira

Novembro -
Lua Cheia - dia 10, quarta-feira
Lua Nova - dia 25, sexta-feira

Dezembro -
Lua Cheia - dia 10, sábado
Lua Nova - dia 24, sábado

Mantra final por Sharath Rangswamy

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

2011, crescer para um estado de saúde e paz...



Desejamos uma maravilhosa entrada em 2011, que este seja um ano de introspecção e mudança, de crescimento e confiança, de responsabilidade e de motivação para atingirem todas as resoluções a que se propõem.

Que seja um ano de maior capacidade de decisão e de acção e que em plena consciência, consigam superar os obstáculos que se apresentam no vosso caminho. Façam uso da vossa prática de Ashtanga Vinyasa Yoga e tenham a oportunidade de viver o vosso quotidiano com mais energia e vitalidade, sem que o stress ou as dificuldades diárias vos impeçam de atingir, e manter um estado vibrante de saúde e paz.

" Disease is brought about by a state of imbalance in the body. All organs (internal and external) are interdependent and if an imbalance or malfunction occurs in one organ, all other are affected. It is therefore of primary importance that we adopt a healthy lifestyle and respect the fine balance of processes at work in the body. Until and unless our internal organs are healthy, we cannot be healthy. In today´s modern living and working conditions, with inadequate attention to lifestyle, diet and exercise, it is not surprising that the organs of the body are over-loaded. if we cannot eliminate the toxins which are taken into the body, a build up of waste matter is inevitable, and disease follows.

The practice(...) helps to cleanse and purify the internal organs of the body. (...) Yogasana can help to rebalance an already diseased body and maintain balance in a healthy body. " Miele, Lino, ASHTANGA YOGA, 2ª Edição, 1996

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Beyond pain


No fundo do túnel há sempre luz, basta acreditar, encher o peito de ar e caminhar passo a passo com confiança, perdendo tempo em sentir tudo, sem medos, sem pressas, sem dúvidas. O mesmo se passa em cima do seu tapete, pise-o todas as manhãs, sinta-o debaixo dos seus pés e com a respiração, faça cada uma das posturas que aprendeu. Garanto-lhe que haverão dias que irá sentir dores, outros em que sentirá pequenos incómodos de um corpo mais fechado, mais rijo, noutros o seu coração mostra-lhe outro género de bloqueios, os emocionais e talvez haja necessidade de largar uma ou duas lágrimas, ou talvez mais. Também lhe asseguro que existirão dias que a sua cabeça viajará para todo o tipo de pensamentos, ora rumo ao seu passado, ora rumo ao seu desejado futuro, práticas que recordará como difíceis, mas no final, serão estas as que mais nos ensinam.

Na prática de Ashtanga Vinyasa Yoga também existem os dias fáceis, onde o seu corpo está aberto, flexível, forte, a sua mente está focada na respiração, nos dristhis, a disciplina de ter repetido a prática dia após dia lhe traz o sthira sukha das posturas, que o permitem fluir num ritmo intimamente seu, para uma realidade, que não se consegue bem explicar por palavras, mas é algo onde o nosso corpo reconhece a nossa mente e em conjunto, vivem com o nosso coração num estado único de paz.

Parece contraditório falar de dores e escrever sobre Yoga, parece um oposto, já que o Ashtanga Vinyasa Yoga utiliza a respiração com os movimentos e posturas para chegar ao controlo do corpo e posteriormente ao controlo da mente. É um sistema progressivo, onde a primeira série de posturas permite uma desintoxicação do organismo e um realinhar do corpo, a segunda sequência prima pela purificação do sistema nervoso e as terceiras séries, as Sthira Bhaga, são tidas como sequências que orientam o praticante para um maior estado de equilíbrio e comunhão. Esta é uma prática gradual, o método não tem por objectivo que o praticante faça a primeira série ou a quarta, o caminho é a aprendizagem sincera, dedicada e longe de expectativas.

Muitos são os praticantes que falam em dores, mas também reconhecem que essas mesmas dores foram provocadas pelo seu desejo de avançarem em determinada postura, por forçarem o corpo, ou pela falta de atenção na hora de praticarem. Se estivermos a acender o fogão com um fósforo e a olhar para o lado, o mais normal será nos queimarmos, o mesmo acontecerá no seu mat, a repetição das posturas, não deve ser feita de forma mecânica, cada respiração e movimento têm de ser sentidos e vividos, Yoga não é exercício físico, embora tenha benefícios para o seu corpo.

Há ainda outro tipo de dores, aquelas que acontecem porque o corpo está a realinhar. Imagine que a sua cabeça é uma bola de bólingue, pesada, redonda, uns desvios para a frente ou para trás, irão com toda a certeza trazer-lhe dores no pescoço, etc. Enquanto o corpo passa pelo processo de realinhamento e depois de anos a manter uma postura incorrecta, é normal que sinta algum desconforto ou dor. O que deve ter presente, é não forçar, respirar correctamente e ter paciência, porque ao fundo do túnel há mesmo luz.

Sejam dores físicas ou dores emocionais, tenha paciência, reconheça os seus limites e devagar, sem expectativas, mas com fé, especialmente em si, pratique. Lembre-se da respiração, sem respiração não há Yoga, nem há asana (postura).

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tristhana



"Tristhana", significa os 3 focos de atenção ou acção e eles são: posturas (asana), respiração e dristhis (focos oculares). Sem Tristhana não existe prática de Ashtanga Vinyasa Yoga e estas três técnicas são utilizadas em conjunto.

De acordo com os Sutras de Patanjali*, as posturas deverão ser "Sthira Sukham Asanam", estáveis e confortáveis. Asana é postura, também traduzido como sentar ou uma forma de estar presente. Os asanas preparam o nosso corpo purificando-o, fortalecendo-o e tornando-o flexível.

A palavra Sthira significa estável, firme, sem mudanças. Para alcançarmos esta estabilidade, precisamos de nos manter presentes, atentos ao que estamos a fazer. Desenvolvendo um estado de quietude física e mental, controlando e integrando o corpo e a mente. Sthira é o oposto de agitação, é uma base estável, uma base forte, resistente e conquistada pelo empenho, dedicação e regularidade na prática.

Sukha é traduzido por confortável, por fácil, alegre, relaxado. Para executar as posturas com conforto e alegria, são necessários anos de aprendizagem, para superar o esforço inicial. A prática de asana deve respeitar o princípio de Ahimsá - não violência para connosco, para com os outros e para o que nos rodeia - e que nos trará felicidade.

Para conseguirmos praticar Ashtanga Vinyasa Yoga, é necessário regularidade, sem esta é impossível desenvolver a prática e em última instância sentir os benefícios do Yoga. Mas estes não são o objectivo do Yoga, Yoga é " Cittra Vritti Nirodah", o controlo das flutuações da mente. O Ashtanga Vinyasa Yoga acenta no vinyasa - sistema que coordena respiração e movimento - para chegar ao controlo da mente.

Outro aspecto do Tristhana é a respiração, feita em Ujjayi Pranayama, uma respiração vigorosa e nasal aliada ao movimento e posturas, promove o aumento da nossa circulação sanguinea, a oxigenação do nosso cérebro, dos músculos e dos nossos órgãos. Este Ujjayi tem o mesmo ritmo e volume tanto nas inspirações e expirações e utiliza em cada fase os bandhas (fechos energéticos), especialmente o mula bandha (contracção do esfíncteres da zona do períneo) e o uddiyana bandha (o recolher para dentro e para cima da zona abdominal inferior). Os bandhas retém a energia no nosso corpo subtil e direccionam-na pelas nadis (canais energéticos), activando os centros energéticos (chakras) que temos ao longo da nossa coluna vertebral.
As nadis, canais subtis energéticos, são como as veias que transportam o sangue pelo nosso corpo. As nadis não são visíveis, mas fazem a circulação da energia.

O último aspecto do Tristhana, são os dristhis - os pontos onde dirigimos o olhar enquanto praticamos asana. Existem nove, no nariz, entre as sobrancelhas,no umbigo, no polegar, na mão, nos pés, para cima, para o lado direito e para o lado esquerdo. Estes focos oculares mantém-nos mais presentes, atentos.

O Tristhana activa o nosso calor, o nosso fogo interno e promove a purificação do nosso corpo e a estabilidade da nossa mente, imprescindíveis no caminho do Yoga.

*sábio indiano, que é denominado como o codificador do Yoga, aquele que escreveu pela primeira vez sobre os conhecimentos do Yoga, no seu famoso clássico "Yoga Sutras"

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Respirar, inspirar-se, sentir-se, escutar-se



"Respirar, inspirar-se, sentir-se, escutar-se."

A prática de Ashtanga Yoga pode ter várias definições, cada praticante terá a sua, cada um que a faz regularmente, ganha noções e conceitos a cada dia, os limites são inexistentes e o que serve de medidor é a forma como vivemos a vida, dentro e fora do nosso tapete. Passar por cima das dores, da angústia e ás vezes até da doença, contornar as armadilhas do Ego e da vaidade, não cair nos buracos da inveja, mesquinhez e do vazio de não sentir a alma, sorrir nos bons e nos maus momentos, acreditar que melhores dias virão e humildemente dar o nosso melhor em cada acção. Assumir que o caminho que trilhamos é fruto das nossas escolhas, da nossa responsabilidade e por isso, que sejam opções conscientes, tomadas por uma visão positiva, saudável, verdadeira, sem ficarmos presos aos medos, ás incertezas de um passado ou de um futuro.

Viver o instante, só temos este corpo, pelo menos neste mundo, então que vivamos aqui e ali, mas agora. Conduzir a nossa vida para algo com significado e entre um chaturanga, um urdhva mukha, um adho mukha, entre sentir a respiração, ora a inspiração, ora a expiração, observar o calor que produzimos, as gotas de suor a correrem pela face, pelos braços, pelas pernas, levar tudo isto lá para fora e fazer com que nos movamos com respeito, amor, amizade e acima de tudo, dignidade. Não uma dignidade produzida pelo o que está certo ou errado, mas uma dignidade que nasça na alma, uma que existe por escutarmos a nossa voz interna e em respeito com esta, moldarmos a nossa forma de ser.

A prática de Yoga tem muito que se escreva, os diversos métodos apoiam-se em técnicas diferentes e normalmente quem está ligado a uma vertente, tende a afirmar que esse é o caminho, o Ashtanga Vinyasa Yoga, não faz a ostentação de ser o melhor ou o certo, afirma que pelo o uso do Vinyasa, sistema que coordena respiração e movimento, o praticante consegue adquirir a destreza física, mental e emocional necessárias para a meditação e em última instância, para a libertação - moksha. O meio para chegar a este estado, é uma viagem interna a um universo, que não se encontra fora, mas dentro de cada praticante, são descobertas, que nos fazem pensar, sentir e agir de forma mais harmoniosa.

O Guruji, Shri K. Pattabhi Jois, afirmou que um dos aspectos mais importantes desta viagem interna, da purificação física e mental, era que libertava o coração do praticante, dos 6 venenos. Ele afirmava que o Yoga Shastra, dizia que "Deus"* existe no nosso coração como forma de luz, mas esta luz está escondida por 6 venenos: Kama(desejo); Krodha(raiva); Moha(ilusão); Lobha(ganância); Matsarya(inveja) e Mada(preguiça). A prática de yoga, mantida com regularidade e continuidade, por um longo período de tempo, permite que o praticante encontre formas de superar estes 6 venenos e que alcance um estado de luz, um estado de liberdade, de contentamento incondicional.

O Guruji não referia estes conhecimentos como meras formas mágicas para alcançar a iluminação, ele falava sim, de prática, não discursava sobre milagres, sobre sorte ou azar, mas proclamava que praticando Yoga, todos podemos alcançar um estado de maior comunhão connosco mesmos.

* esta referência a Deus, não significa que para praticar Yoga, se tenha de seguir qualquer tipo de religião, Deus pode significar o Macrocosmo, ou uma identidade superior que existe em cada um de nós.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Praticantes


Todos os dias, dezenas de pessoas encontram-se na sala de prática, estendem os tapetes lado a lado e descobrem nos primeiros movimentos se o corpo está rijo ou se está solto, se há algum ponto de desconforto, tensão ou dor, se a mente está agitada ou incrivelmente tranquila, se a alma já está desperta ou ainda adormecida pelo stress de um quotidiano citadino.

Uma sala cheia de praticantes, uma plena aula de Mysore Style, onde cada um está concentrado na sua prática, onde cada um faz a série de posturas no seu próprio ritmo respiratório, mantendo um Ujjayi audível. Dezenas de respirações juntam-se e produzem um som forte, coordenado, estável e profundo. Cada um se movimenta com a respiração, cada um se move para determinada postura, puras coreografias individuais que juntas, originam um espectáculo intenso, repleto de viagens internas.

Indivíduos que não se conhecem, praticam lado a lado, não sabem os nomes uns dos outros, mas se cruzarem os olhares, esboçam um sorriso de camaradagem, reconhecem e identificam-se como companheiros neste caminho espiritual que é o Yoga.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

" Uma prancha que viaja na Índia" - por João Pontes Meneses



Este texto não fala de especificamente de Yoga, mas quando o li, não resisti a pedir ao autor para o publicar aqui, é um retrato de alguém que viajou pela Índia, que levou uma prancha debaixo do braço e surfou ondas enquanto grupos de indianos se juntavam na beira-mar a aplaudirem-no, perplexos por nunca terem visto ninguém em cima de uma prancha, no meio do mar. É um artigo que usa um jogo e com essa brincadeira, traduz um pouco daquele país, das pessoas, das cidades, das paisagens. E se o relermos duas vezes, conseguimos até encontrar um pouco de Yoga...

"Há dias, como tantos outros, em que os pés sufocados de pantufas negras nos
impedem de esticar os dedos, de sentir a terra.

Aqui, na Índia, não há dias como tantos outros. Talvez por estar de passagem, talvez pela sede de conhecer, para mim não existem esses dias. Como tantos outros!

Junto letras mas a caneta pede um desenho. Lamento, não consigo. Não há um
desenho, há imagens. E são raras as que sobrevivem em papel. Não é por acaso que a caneta pede um desenho, sabendo dos quilómetros que já percorri, imagina a tinta que terá que gastar com palavras. Podia fazer um diário! Facilitava-me a síntese de imagens. Vejo e escrevo. Mas, ninguém gosta de beijar sem química... Ninguém gosta de escrever por obrigação, e por vezes um diário é isso. Obrigação! Risco o diário, sei que vou perder no pormenor mas ganho palavra a palavra.

Duas semanas e já vi tanto! Não sei se consigo escrever, tenho que jogar. Conhecem o jogo
do gostei - não gostei?
É um jogo de viagem. Só precisam de olhar as palavras e desenhar mentalmente imagens:

Gostei da Vila de Mamallapuram e das ondas perfeitas. Gostei de pedalar 40km e visitar o templo da planície. Gostei, junto ao mar de ver as esculturas cravadas em rocha, dedicadas a Shiva. Não gostei da parte direita da praia que serve de casa de banho aos locais. Mas gostei do pontão que por ali estava, sedimentando areia, tornando as ondas perfeitas e rápidas.

Seguindo para sul, gostei de Pondicherry, cidade limpa nos padrões indianos. Gostei da praia de Auroville e do conceito de aqui se poder viver de forma diferente, sem olhar a raças ou religiões, gostei de sentir que há pessoas que acreditam que podem viver em comunidade, com regras diferentes da sociedade, respeitando-a porém. Gostei da aldeia Cristã de Mamapadu,
isolada da índia turística onde não se fala uma palavra de inglês. Gostei de não ver um turista durante 48 horas. Gostei de comer com as mãos vegetais e arroz, servidos em folhas de bananeira. Gostei de entrar na igreja de kanyakumari, no ponto mais sul da Índia. Gostei de sentir proximidade de casa, dentro da casa de Deus.

No sul da Índia encontram-se 80% dos cristãos indianos! E foi por isso que gostei de falar do milagre de Fátima no restaurante da família da Cruz, em Fort Cochin, no Estado de Kerala. Falei para fazer a ponte com Portugal, não por acreditar no milagre. Não gostei de me esquecer de um dos nomes dos 3 pastorinhos. Jacinta pois então! Francisco e Lucia saíram logo à primeira. E eu que até tenho Jacinto como um dos nomes de família. Gostei, ainda em Fort Cochin, de ver a igreja de S. Francisco, construída em 1503 pelos nossos avós. Não gostei dos meus fracos conhecimentos de historia, quando só na Índia soube que o corpo de Vasco da Gama esteve ali enterrado 14 anos, antes de ser levado para Lisboa. Presumo que esteja nos Jerónimos.

Gostei da viagem para as montanhas de Kumily. Outra viagem! Não se viaja
para a Índia, viaja-se na Índia. Lá em cima gostei de seguir as pegadas no trilho dos elefantes: Bosta, folhas e árvores arrancadas. Vão com algumas horas de distância, dizia o guia. Gostei de os ver ao longe, pareciam mais livres que os da savana, talvez pelas montanhas, vales e rios, ou simplesmente porque nunca os tinha visto assim, ao vivo e
livres. Não gostei das sanguessugas a inundarem me o corpo.

Gostei da multidão na praia de Kovalam a ver-me surfar e a bater palmas, não pelo nível de surf mas porque a maioria nunca tinha visto um surfista. Não gostei de ver tantos hotéis junto à praia mas gostei de me rir com alguns “freaks” com a ideia de que estão muito sintonizados com a Índia e destoam completamente deste povo. Gostei das falésias de Varkala e das ondas com vento mas não gostei de me sentir com febre e com poucas forças para surfar.

Agora, gosto de sentir o cheiro das cidades através da janela do autocarro. Não gosto de aprofundar alguns cheiros, porque depressa encontro lixo e cheiro a m... Gosto de caminhar em praias desertas porque são incrivelmente bonitas e fazem-me acreditar que uma educação em sintonia com o ambiente pode diminuir drasticamente os índices de poluição. Não gosto de ver crianças a atirar lixo para o chão imitando os seus pais. Gosto de as ver treinar o inglês comigo com um what's your name e uma gargalhada. Gosto que toquem na minha prancha e façam perguntas sobre todos os desportos aquáticos, esquecendo-se do surf. Na minha estúpida postura etnocêntrica, gosto de saber que a maioria não sabe o que é o surf. Gosto da perícia dos condutores de camionetas, carros e motas típicas de passageiros. Não gosto dos seus escapes a entrarem-me pelos pulmões. Gosto da pronúncia dos indianos a falar inglês, gosto da sua simpatia e das conversas nos
transportes públicos. Gosto deste povo pacífico! A violência tem estado escondida, sei que ela vive num qualquer subúrbio de uma das muitas cidades, mas ainda não vi um gesto agressivo de um indiano, seja muçulmano, hindu ou cristão. Gosto de saber que a
Índia é a maior democracia do mundo. Não gosto de saber que ainda está
longe de ser uma verdadeira democracia.


Gosto das minhas chinelas novas, gosto de viajar de comboio, de dormir no
comboio, de ler e escrever na minha cama sobre carris. Já vamos com 17 horas de viagem. Destino Goa! Queria reler "Um estranho em Goa", do José Eduardo
Agualusa. Pena, já não cabia na mochila. Lê-lo é viajar por esta Região. Agora estou
a 1 hora da próxima viagem, desta vez mais real. É costume dizer-se que quem
vê Goa já não precisa de ver Lisboa. E quem já viu Lisboa o que precisa de ver?

Nestes próximos dias só espero não me sentir um estranho em Goa. E se a estranheza inundar a minha viagem por este Estado da Índia, regresso à costa este, ainda poupada pelas monções, onde dormem as ondas de Mamallapuram. E aí não sei se rezo ou se medito. Apenas sei que pedirei, com algum cepticismo, a um qualquer Deus Indiano que as acorde, soprando-as para a bancada de areia encostada ao pontão.

E com elas acordadas, estranho não me vou sentir."

domingo, 15 de agosto de 2010

"Practice, practice... and all is coming"




As primeiras lições que aprendemos com o Yoga, é que esta filosofia se baseia na ideia de nos mantermos no momento presente, que o passado e o futuro nos podem limitar, de tal forma, que passamos a uma vida sem sentido. A única coisa que temos, é este mesmo instante e é um período de tempo com poderes extraordinários, mas para os activar, há que nos mantermos no já conhecido, "aqui e agora".

Se enquanto estamos em cima do tapete, vamos visitar as memórias do passado ou nos permitimos passear com a imaginação, para a construção de um futuro, falhamos a primeira aprendizagem que o tapete nos oferece, o estarmos presentes em cada respiração e em cada movimento. Esta noção do presente, implica uma maior concentração e em última instância, pretende que cheguemos a um estado de meditação.

A prática de Yoga, é o espelho da nossa vida e a nossa vida serve de medida para tomarmos consciência, do nível em que está a nossa prática, ambos andam de mãos dadas, ambos Yoga e Vida são semelhantes, se não mesmo iguais.

Na hora de subirmos ao tapete e de ali ficarmos, as duas horas de prática, encontramos e reencontramo-nos connosco mesmo. É como se conseguíssemos accionar um botão de pausa, onde tudo se torna mais lento, mais profundo e mais verdadeiro, onde as máscaras caem, onde sentimos a nossa alma. Para aproveitarmos isto, a mente precisa de estar focada. Focada no que fazemos e mesmo que os pensamentos continuem a teimar em aparecer, há que vê-los como meros pensamentos, sem nos identificarmos com nenhum, sem que estes nos consigam remover do tapete e levarem-nos para os mais diferentes palcos do passado e do futuro.

A vida já é suficiente complicada, nem sempre estamos felizes, nem sempre há harmonia, há leveza, estabilidade, é preciso que nos libertemos das amarras dos padrões de pensamento e de comportamento e com uma nova atitude, irmos aproveitando o nosso Yoga para fazermos, o exercício de nos mantermos no presente. De nos mantermos mais verdadeiros e mais coerentes. É tão fácil, andarmos presos nas recordações do passado, os bons e os maus momentos, todos aqueles retratos que correspondem a determinada emoção ou sentimento e por outro lado, deixarmo-nos ir, oh sonhadores, pelas construções mentais de um futuro mais positivo ou não, criarmos toda uma série de novos acontecimentos, ilusórios ou não. Mas quando estamos constantemente assim, perdemos o momento, perdemos o presente!

Não estamos a escrever, que o Yoga nos diz que não podemos relembrar o passado ou que não podemos nos imaginar no futuro, não, o que escrevemos, é que embora recordar ou projectar seja humano, não nos devemos identificar ou agarrar ao que já vivemos ou o que pretendemos viver, porque ambos nascem do presente e somos responsáveis, os únicos responsáveis pela condução da nossa vida. A cada instante temos a oportunidade de mudar a trajectória da nossa vida e muitas vezes o momento passa-nos despercebido, porque andamos a passear no nosso quadro mental, andamos a perder tempo com o que já foi vivido e com o que desejamos viver. Mas a vida é feita do agora, esta vida maravilhosa que cada um de nós têm, é feita de nos sentirmos presentes, conscientes e responsáveis.

E a famosa frase, " practice...practice... all is coming! ", que foi dita inúmeras vezes por este grande mestre e figura incontornável da história moderna do Yoga, Shri K. Pattabhi Jois, mostrava que o fundamental é estarmos aqui, é subirmos ao tapete como à vida e nos mantermos no momento, dando o nosso melhor, o resto, o resto naturalmente acontecerá.

* KPJAYI, em Mysore

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A escola


O espaço escola é sempre um lugar que deverá inspirar os alunos a praticarem, um lugar seguro, confortável e com o ambiente propício que estimule a vontade dos praticantes a subirem ao tapete e assim começarem mais uma prática de Yoga. Deve também, ser um sítio que sirva de apoio para aqueles dias, que a vontade fugiu e só nos resta uma preguiça gritante, que afasta a disciplina de manter o Yoga de forma consistente, diário, sem interrupções. Mas além destas funções, a escola está a servir para juntar praticantes de todo o mundo, estamos a começar a ser visitados por praticantes e professores de outros países e as oportunidades que isto apresenta, são mais que muitas, a partilha de informação, o conhecimento da vivência de pessoas que tambem se dedicam ao Ashtanga Yoga, as pequenas histórias que ouvimos sobre os mais diversos episódios das suas vidas, são de tal maneira inspiradoras que, irão enriquecer as nossas próprias experiências, dentro e fora do tapete. A troca de informação é sempre positiva, o que recebemos desta são normalmente novos instrumentos, novas estratégias para colocarmos em prática, seja a fazermos Yoga ou a levarmos este para o nosso dia-a-dia. É uma mais valia, termos este cruzamento de culturas, de histórias, de conhecimentos.

O Ashtanga Yoga move milhares de pessoas, ora em grandes centros de yoga, ora em pequenas escolas, esta prática tem o poder, de levar pessoas comuns a se encontrarem nos mais diversos horários e a praticarem, a esforçarem-se por conquistar a disciplina que motiva a mudanças. Mudanças no nosso estilo de vida, ou mesmo, a força necessária para criar as primeiras bases para um estilo de vida, um que seja mais saudável, mais verdadeiro connosco mesmo e com os que nos rodeiam, com mais significado, porque quando sentimos que somos um corpo, uma mente e uma alma, a magia desta descoberta, é de tal maneira reveladora que, naturalmente, providenciará, a calma necessária, para superar as fases mais complicadas da vida.

Este Ashtanga Yoga ou qualquer outro método de Yoga, deveria ser praticado por cada Ser Humano, talvez devesse ser ensinado na escola, quando começamos a ser Gente, talvez se o fizessemos desde cedo, poupávamos nas consultas ao psicólogo ou do psiquiatra, ou na despesa de medicação anual. Com toda a certeza que teríamos uma sociedade mais feliz, comunidades mais interessantes e pessoas mais humildes.

* Grant Gladwin, Ashtanga Cascais

domingo, 4 de julho de 2010

Receptividade



Alex Medin (professor certificado do KPJAYI) fala sobre a importância da receptividade no asana, ou seja, a receptividade enquanto executamos as posturas, a atitude descontraída e tolerante que nos permite aceder a outros estados de consciência.

Se executamos uma postura, onde respiramos rápido, onde o corpo grita de esforço, de incapacidade, deveremos não lutar contra as reacções do corpo, mas aceitar as nossas limitações e com paciência e receptividade, inteligência e bom-senso, abraçar a experiência.

Respirar com calma, é o primeiro passo, compreender se estamos a executar correctamente os movimentos ou se precisamos de alinhar ou corrigir determinada parte do corpo será o segundo e por último, há que manter a receptividade e lembrar que não pretendemos chegar a lado nenhum, que como Medin afirma, não há nada a adquirir ou nada a ganhar, que ao estamos em determinada postura, que sejamos receptivos à experiência e quer ela nos deixe avançar ou quer tenhamos de ir um pouco atrás, o importante é estarmos, é presenciarmos, vivenciarmos cada instante e isso é Yoga.

* Carmen Santos, Ashtanga Cascais, 2010

Atitude


Que atitude devemos ter enquanto estamos em cima do tapete? Quer nos dias que nos sentimos inspirados ou naqueles em que estamos preguiçosos, pesados ou rijos, que atitude devemos adoptar de modo a conseguirmos praticar Yoga?

Nada melhor que começar pelo inicio e pelo que nos é ensinado logo na primeira aula e que tantas vezes ouvimos o professor recordar, repararmos como está a nossa respiração, sentindo-a dentro de nós, cada inspiração e cada expiração, permitir que ambas sejam feitas pelo nariz, em Ujjayi Pranayama e que aos poucos, se tornem mais e mais profundas, lentas, longas.

Que o som destas nos conduzam a outro estado de espírito, aquele que ajuda a procurar não o esforço ou a exaustão física, mas a graciosidade e a leveza de cada movimento e cada postura. O amigo e professor de certificado pelo KPJAYI, Alex Medin, refere sempre que a prática de Ashtanga Yoga, é uma prática que está baseada no quanto conseguimos nos manter presentes, conscientes na respiração e em como esta, nos deverá conduzir a este estado de graça, onde não há lugar para o esforço demasiado ou violência.

Não faz sentido continuar a forçar, se nos está a doer determinada parte do corpo, em determinada postura, é nesses momentos que devemos relembrar a respiração e verificarmos se ela continua a estar lenta, suave, profunda ou se se tornou numa respiração rápida, curta, onde o som descrito sempre como semelhante a uma onda, que ora vai e ora vem, é agora mais parecido com o som de um mar agitado, em plena noite tempestiva de inverno. O segredo é voltarmos sempre á respiração, ela é o fio condutor, a música de fundo da nossa prática. É ela que prepara o nosso corpo e acalma a nossamente. É por ela que adoptamos uma "atitude de aceitação e recepção" (Alex Medin).

Se a prática é feita para limparmos o nosso corpo, para tranquilizarmos a nossa mente, para nos sentirmos mais conectados, mais reais, honestos, devemos ter paciência, respeito e disciplina com e por nós mesmos. A prática de Ashtanga Yoga é uma prática altamente espiritual, irreversivelmente transformadora e amplamente grandiosa, onde o nosso potencial como seres humanos, é elevado ao seu expoente máximo.

*Alex Medin, Casa Vinyasa, 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mysore Style e Aula Guiada


Mysore é uma cidade no sul da Índia, no interior do estado de Karnataka, conhecida pelo seu palácio, templos, sedas e artefactos de sândalo, mas tem ficado famosa por ser a cidade onde desde 1937, Shri Krishna Pattabhi Jois (1915-2009) ensinou e onde estabeleceu o antigo, Ashtanga Yoga Research Institute, actual, Shri Krishna Pattabhi Jois Ashtanga Yoga Institute (kpjayi).

O Mysore Style é a forma como o Shri K. Pattabhi Jois (Guruji) aprendeu e ensinava o Ashtanga Yoga - que consiste numa aula de grupo, com alunos de distintos níveis de aprendizagem, que praticam segundo o seu próprio ritmo respiratório, encontrando uma verdadeira ligação entre respiração, corpo e mente.
O silêncio é uma das maiores características deste género de aula, onde apenas escutamos o som das respirações dos praticantes e a voz baixa do professor que corrige, aconselha, ajusta e ensina novas posturas quando as anteriores estão interiorizadas. As indicações e correcção são individuais, pormenorizadas e ajustadas às necessidades e capacidades de cada praticante.


Este tipo de aula é diferente de uma aula guiada de Ashtanga Yoga ou de outro estilo de Yoga, no entanto todos os alunos iniciantes são guiados, para que memorizarem as respirações e a correcta execução das posturas.

As aulas Guiadas são orientadas pelo professor que faz a contagem tradicional e em sânscrito dos Vinyasas - o número exacto de respirações de entrada, permanência e saída de cada postura. Alunos iniciantes ou mais avançados, praticam lado a lado segundo as indicações do professor.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cotton Mats





Cottons Mats são usados na prática tradicional de Ashtanga Yoga e foram recomendados pelo nosso querido Sri K. Pattabhi Jois (1915-2009) como sendo a superfície ideal para a prática.

Estes tapetes de algodão acentam em qualquer tapete de Yoga e providenciam uma "almofada extra" quando estamos a executar as posturas sentadas ou deitadas, têm ainda a função de travar e/ou dar estabilidade nas posturas de pé, pois absorvem a transpiração, não permitindo que a superfície fique escorregadia.

Os nossos cottons mats são made by Índia, made by Mysore da famosa loja do Sr. Rashinkar, temos nas cores, rosa, roxo, lilás, azul escuro e laranja.

Cuidados -
lavar separadamente, a água fria.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Como tudo funciona? IV



Outra das técnicas utilizadas na prática de Ashtanga Yoga são os Bandhas - significam fechos ou selos internos. Os Bandhas são normalmente descritos como contracções de grupos musculares que auxiliam a entrada, permanência e saída de cada postura e têm a função de dirigir a energia pelos 72.000 canais energéticos que existem no nosso corpo subtil. Executados com a respiração, posturas e drishis, dão-nos leveza e força e fomentam o calor interno, tão necessário para o processo de desintoxicação.

O Ashtanga salienta 3, o Mula Bandha, o fecho raíz, é a contracção dos músculos da região pélvica e do períneo; o Uddiyana Bandha, é o recolher da zona abaixo do umbigo (dois dedos abaixo) para dentro e para cima, é a contracção suave da zona abdominal inferior e o Jalandhara Bandha, trazer o queixo ligeiramente para baixo e para trás, aproximando-o do bordo interno das clavículas.

Estas contracções musculares e energéticas devem ser feitas de forma suave, gentil e são progressivamente apreendidas e interiorizadas. Sem a execução dos bandhas, não conseguimos beneficiar completamente dos efeitos das posturas ou da prática de Yoga, uma vez que eles ajudam a não perdermos a energia que é construída por esta, eles impedem a dispersão de energia e conduzem-na pelos centros energéticos (chakras). Não se esqueça que Yoga é mais que físico, o Yoga une todos os níveis do Ser Humano, o Yoga acredita que todos temos um corpo energético, que somos feitos de energia.

* Vera e Cláudia, Ashtanga Cascais

Como tudo funciona? III


Durante a prática de Ashtanga Yoga, os olhos mantém-se abertos e fixos em determinados pontos específicos, a isto se chama Dristhis - focos oculares - que auxiliam a uma maior concentração e controlo mental.
Existem 9 dristhis: no nariz - Nasagrai; entre as sobrancelhas - Bromadhya; no umbigo - Nabi Chakra; no polegar - Angustha Madhyai; nas mãos - Hastagrai; nos pés - Padayoragrai; para cima - Urdhva e para o lado direito ou esquerdo - Parsva.

Invés de dispersarmos a atenção com os colegas que estão ao lado ou com o que se passa à nossa volta, conduzimos a prática para algo mais interno e subtil, Focando o olhar, trazemos uma maior consciência ao que estamos a fazer, dirigindo a nossa mente para o presente.


*Filipa Jacinto, Ashtanga Cascais

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Como tudo funciona? II


Guruji mostrava que a prática correcta de Ashtanga Vinyasa Yoga acenta em respiração aliada com os movimentos e posturas, bandhas (fechos energéticos) e dristhis (focos oculares específicos). A respiração é feita em Ujjayi pranayama - Ujjayi siginifica respiração vitoriosa ou vigorosa, privilegia a respiração nasal de forma longa, profunda e contínua, onde a fase da inspiração é igual à fase da expiração, não há paragens entre uma e a outra. A mesma quantidade de ar que entra, será a mesma quantidade de ar que saí. Há quem chame a este tipo de respiração, a respiração do som do oceano, porque ela produz um som contínuo e uniforme, que quando é perfeito é semelhante às ondas do mar a chegarem e a irem, há uma abertura da glote, na parte de trás da garganta e sempre que o ar passa por aí, o som é audível, como se fosse um sussurro. O objectivo deste tipo de respiração é aprofundar o tempo da respiração, aumentando cada fase da inspiração e expiração, acalmando naturalmente a mente. O Ujjayi pranayama ajuda a mantermo-nos presentes, concentrados, tranquilos e estáveis, preparando-nos para um estado meditativo. Paralelamente a estas funções, o Ujjayi aumenta a nossa temperatura corporal, aliado aos movimentos e posturas, torna-se Vinyasa e ajuda a desintoxicar o organismo e posteriormente o sistema nervoso.

* Laura Griskeviciute, Ashtanga Cascais

terça-feira, 27 de abril de 2010

Como tudo funciona?


O Ashtanga Vinyasa Yoga tem como principal característica o VINYASA - o sistema que conjuga respiração e movimentos, ou seja, para cada movimento existe uma respiração. Por exemplo, no SURYA NAMASKAR A, existem 9 vinyasas, o 1º começa quando inspiramos, elevamos os braços e unimos as mãos, o 2ª quando expiramos, flectimos o tronco para baixo e colocamos as mãos ao lado dos pés, etc. Assim cada movimento corresponde a uma respiração e cada postura terá determinado número de respirações para entrar, permanecer e sair.


Este sistema de Yoga foi ensinado por Ramana Rishi no YOGA KORUNTA, texto antigo, passado a Shri T. Krishnamacharya no início de 1900 pelo seu mestre Rama Mohan Brahmachari, que por sua vez o transmitiu a SHRI K. PATTABHI JOIS (GURUJI) (1915-2009).

O objectivo do VINYASA, é promover a limpeza interna, a sincronização de respiração e movimento enquanto executamos o Asana (postura) aquece o sangue ou como o Guruji afirmava, "...faz o sangue ferver!". Ele ensinou que o calor gerado pelo Vinyasa limpa o sangue, pois torna-o mais fino, aumentando e melhorando a sua circulação. Com o sangue a "ferver" e a fluir por todo o corpo, há também uma limpeza dos órgãos internos, removendo impurezas e doenças. Pattabhi Jois sustentava que o sangue quando espesso, é sujo, não circula com facilidade, promove e fomenta doenças no organismo, ao contrário que um sangue fino, limpo, fluí pelo corpo e torna-o saudável.

A transpiração é resultado do Vinyasa, tem um papel fundamental na libertação de toxinas do organismo, traduzindo-se num processo forte de desintoxicação e purificação, tornando o corpo, aula a aula, prática a prática, mais limpo, forte e tonificado. É o Vinyasa que cria a base para adquirirmos maior controlo do corpo que posteriormente corresponderá a um maior controlo da mente.

* Aula Guiada no KPJAYI, em Mysore

domingo, 28 de março de 2010

Yamas e Niyamas


Patanjali (sábio indiano que escreveu o famoso "Yoga-Sutra") define Yoga, como " Yoga Citta Vrtti Nirodah ", Yoga é a cessação das fluctuações da mente e descreve um caminho de 8 passos que levam o praticante a encontrar integração no corpo, mente e alma, eles são: Yamas (proscrições éticas); Niyamas ( observações internas); Asana (posturas); Pranayama (controlo da respiração); Pratyahara (controlo dos sentidos); Dharana (concentração); Dhyana (meditação) e Samadhi (absorção, integração, realização). Cada uma destas fases prepara a próxima e em cada um delas existem as 7 restantes.

Os Yamas e Niyamas, são princípios éticos que sustentam a prática de Yoga, são a base da prática, sem Yamas e Niyamas não há Yoga.


Imaginem o seguinte exemplo, um praticante de Yoga acorda ás 4h, mas ao despertar começa a resmungar com a mulher pois tem sono, mas obriga-se e força-se a levantar, faz tanto barulho por sentir preguiça, que também acorda as crianças. No tapete, força a respiração, força o corpo. Pelas 7h a família já está na mesa a tomar o pequeno-almoço e as crianças quase que se encolhem quando o vêem chegar, mas como agora está "relaxado ", dá-lhes um sorriso e recupera a harmonia entre si e a sua família. No carro, em plena rotina de deixar os filhos na escola e seguirem para os respectivos trabalhos, o homem vai conversando, até que de um momento para o outro, começa a gritar com o condutor da frente, fá-lo de tal modo que regressa a sensação de mal estar na mulher e nas crianças. No trabalho, gaba-se que faz Yoga todos os dias, gaba-se e demonstra como tem flexibilidade e força, fala e fala e mente umas quantas vezes. Num grupo à parte faz comentários invejosos sobre um colega. Sente inveja dos colegas, pensa e fala mal de todos. Isto é Yoga? Não, Yoga fornece conhecimentos para nos relacionarmos de forma equilibrada connosco mesmo, com os outros e com o que nos rodeia, dá-nos integridade e integração. Yoga leva-nos a tomar consciência dos nossos padrões de pensamentos, dos nossos sentimentos, emoções e comportamentos e com essa nova luz temos a capacidade de melhorarmos.

Iyengar comparava os 8 passos dos Yoga-Sutras a uma árvore e os Yamas e Niyamas seriam as raízes e o tronco,eles são os alicerces da prática, tem como objectivo acalmar a mente, o praticante não pode progredir se a mente e os orgaõs dos sentidos estiverem instáveis.

Os Yamas - a palavra yama significa refrear, controlar, restringir. São condutas éticas que nos ajudam a melhorar o nosso relacionamento com os outros e com o que nos rodeia, de modo a obtermos estabilidade e existem 5 Yamas: Ahimsa, Satya, Asteya, Brahmacharya e Aparigraha.

Ahimsa - significa não-violência no corpo, mente e discurso; Satya - veracidade nos sentimentos, palavras e acções; Asteya - não roubar, não possuir o que não lhe pertence ou não cobiçar; Brahmacharya - moderação e controlo dos orgãos dos sentidos; Aparigraha - não possessividade, afastar a avareza e a ganância, controlar vontades, desejos e necessidades.

Os Niyamas - são observações internas, condutas individuais que implicam a purificação e limpeza interna e externa do corpo, são auto-regulações que ajudam a manter um ambiente positivo onde possamos crescer, eles são: Saucha, Santosha, Tapas, Svadhyaya e Ishvara Pranidhana.

Saucha - pureza ou limpeza, tanto interna como externa, não basta apenas cuidarmos da limpeza do corpo, com banhos, roupa e mat limpos, mas também em termos consciência do que comemos, do que lemos, etc; Santosha - contentamento, quer nos bons ou nos maus momentos, manter a estabilidade da mente e não nos deixarmos levar pelos dramas quotidianos; Tapas - significa calor ou aquecer, é traduzido como auto-disciplina, purificação, determinação, esforço em alcançar determinado objectivo; Svadhyaya - auto-estudo, pelo estudo dos textos antigos e pela prática de Yoga, conseguirmos afastar Avidya (ignorância); Ishvara Pranidhana - entregar as nossas acções a algo Superior, o Yoga não se concentra numa religião ou num Deus particular, mas nos diz que devemos agir sem pensarmos nos frutos que podemos recolher.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Savasana ou apenas descontracção?


O Savasana, em sânscrito significa postura do cadáver e Sri K. Pattabhi Jois costumava dizer que esta era das posturas mais difíceis para os alunos, pois implica não estar acordado, nem a dormir.

A postura é feita normalmente deitada de costas no chão, com as pernas afastadas ligeiramente, os braços ao longo do corpo com as palmas das mãos dirigidas para cima, o pescoço alinhado com o resto da coluna, permitindo que o rosto esteja também orientado para cima e os olhos devem estar encerrados, tem o objectivo de induzir o corpo e a mente num estado de relaxamento e descontracção.

O Ashtanga Vinyasa Yoga, ao contrário do que já escrevi, não inclui Savasana. Ás séries de posturas é apenas agregado um tempo de descontracção, ou relaxamento. Estes tempos e exercícios, não chegam a ser Savasana, no entanto têm uma enorme importância para que o praticante consiga sentir ainda mais os benefícios do Yoga.

Acredita-se que uma prática de Yoga só está completa quando existe este tempo de descontracção ou relaxamento, pois o corpo precisa de tempo para interiorizar toda a informação que aconteceu durante a aula. Este tempo, não existe para que o aluno adormeça ou que pense na sua vida, mas sim é uma altura onde este deverá se manter presente e mesmo que surjam distracções, pensamentos, ou que a nossa imaginação nos conduza para outro lugar, deveremos identificar esses pensamentos e emoções e com consciência optarmos por nos deixarmos estar, simplesmente estar. E claro é aqui que se encontra a dificuldade, o estar, o estar sossegado, quieto alguns minutos, o permanecer num estado neutro, sem darmos largas à nossa imaginação, aos nossos pensamentos, sem nos deixarmos adormecer.

Alguns alunos adoram esta altura da aula, a fase onde podem descansar depois de terem dobrado, rodado e torcido o corpo nas mais variadas posturas e outros encaram a descontracção como um verdadeiro pesadelo, onde os poucos minutos de descanso são uma tortura, a simples ideia de estarem 5 minutos quietos, sem se mexerem é vista como um desafio impossível e muitas vezes nem os olhos conseguem manter fechados, tem de olhar para o tecto, olhar para os colegas ao lado, mexer as mãos, bater com os dedos no chão como se procurassem desesperadamente uma tábua de salvação, para se distraírem deles mesmos.

A maior parte de nós vive num mundo de distracção caótica e total, sem se conseguirmos criar uma conecção com o corpo, com a mente, com alma, Patanjali afirma que esta é uma das formas de AVIDYA, ou seja ignorância. Utilizamos a distracção para evitarmos a ligação entre o nosso corpo e a nossa mente, para evitarmos tomar consciência ao que realmente sentimos e pensamos.

A descontracção no final da aula, é uma altura onde guardamos a energia criada pela prática no nosso corpo, sem este tempo, esta energia encontraria uma forma de sair de dentro de nós, o que nos deixaria com uma sensação de exaustão física, mental e emocional. A prática de Ashtanga Vinyasa Yoga, por mais forte que seja, não tem o objectivo de nos deixar cansados, mas pelo contrário quando feita devagar, segundo o nosso ritmo respiratório, fluidamente e graciosamente e com relaxamento no final, tem o potencial de nos deixar revitalizados e tranquilos.

* Descontracção, workshop de Tomaz Zorzo, 2004, Casa Vinyasa Açores

Não é um jogo... nem tão pouco um concurso ou competição


A maioria de nós está habituado ou cresceu segundo a ideia que temos de lutar pelo nosso lugar na sociedade, na nossa comunidade, no nosso trabalho, no seio da nossa família, grupo de amigos, etc. Adjacente a isso e porque o mundo é cada vez mais competitivo e exige tanto de cada um de nós, cedo aprendemos os conceitos de concorrência, competição e da ignorante e limitante existência do nosso ego e orgulho. O Yoga não é um jogo, não é uma batalha, nem tão pouco um concurso ou competição, não tem prémios e os benefícios não são o fim mas sim as consequências de uma prática sincera, contínua e disciplinada.

No inicio é normal sentirmos a necessidade de provar aos outros: aos colegas que estão ao nosso lado, ao professor e até a nós mesmos que conseguimos fazer aquela ou outra postura, mas rapidamente aprendemos que não é por aí o caminho. Que não é por chegarmos com as mãos ao chão quando nos dobramos para a frente ou porque conseguimos fazer os tão famosos backbendings ou os drop backs ou que mantemos as 10 respirações na postura invertida de cabeça no chão, que somos mais ou menos praticantes de Yoga. No Yoga não interessa se você faz ou não a postura perfeita, interessa sim o seu esforço sincero, a sua dedicação à prática e por esta, tudo o resto acontece.

Mas mais importante ainda, é necessário que você perceba que dentro da sala de aula, em cima do seu tapete, não há espaço para competições e concorrências, que a sala de aula é um lugar neutro e seguro, onde você pode largar as máscaras e condicionamentos sociais e com o coração aberto, simplesmente fazer a sua prática, conectando-se cada vez mais com o seu corpo e a sua mente.

É normal perdermos -nos com a prática dos colegas do lado, não estamos habituados a concentrarmos-nos em nós, na nossa respiração nem tão pouco no nosso corpo e o mais natural é que a meio da aula estejamos deslumbrados ou surpreendidos com as posturas que os outros colegas fazem, levando-nos a comparar as nossas capacidades e limitações com as deles. Verdade seja, que ainda hoje quando estou numa sala repleta de alunos avançados, dou por mim a ter de fazer um esforço consciente para me concentrar nos meus drishtis (focos oculares) de modo a manter a minha prática.

Somos humanos, nascemos e crescemos no seio de milhares de cenários competitivos. Mas se nos lembrarmos que o Yoga é uma viagem individual, única e diferente para cada um de nós mesmo quando feita numa sala repleta de praticantes, onde cada um pratica no seu próprio ritmo, onde cada um sente as posturas de forma diferente mesmo quando executamos os mesmos asanas.

* Lu Andrade, Manel Ferreira, Goa

domingo, 17 de janeiro de 2010

O mantra inicial


OM
Vande gurunam charanavinde
sandarshita svatma sukhavabodhe
nih shreyase jangalikayamane
samsara halahala mohashantyai

Abahu purushakaram
shankhachakrasi dharinam
sahasra shirasam shvetam
pranamami patanjalim
Om


I bow to the lotus feet of the supreme teachcer
who reveals the happiness of self - realization;
who like the jungle doctor removes the delusion
caused by the great poison of conditioned existence.

To Patanjali, who (representing the serpent of infinity)
has thousands of white, radiant heads,
who is in his human form holds a conch(representing sound),
a discus (representing light), and a sword (representing discrimination),
I prostrate.


Esta tradução foi retirada do livro de Gregor Maehle "Ashtanga Yoga, Practice & Philosophy". É o mantra inicial do Ashtanga Vinyasa Yoga, não tem nenhuma conotação religiosa, é simplesmente uma referência para os professores, para todos os professores que ensinam e ensinaram Yoga, uma oferenda a todos os que trouxeram luz e conhecimento a onde antes havia ignorância e escuridão. Salienta Patanjali, grande sábio indiano, que é apontado como aquele que codificou o conhecimento do Yoga, quem escreveu os conhecimentos do Yoga em papel, no tão famoso e clássico livro " Yoga Sutra" .