domingo, 27 de fevereiro de 2011

Yoga Stops Traffick 2011 - um pouco de contexto


O Ashtanga Cascais tem a honra de se juntar ao evento mundial, YOGA STOPS TRAFFICK, que consiste em despertar a atenção pública para a triste temática do tráfico humano na Índia, com os propósitos de exploração sexual, escravatura e abuso doméstico de crianças e mulheres. O YOGA STOPS TRAFFICK está associado á instituição indiana, Odanadi, que funciona em Mysore, cidade onde centenas de ocidentais se deslocam para estudarem Yoga.


A Odanadi nasceu há 20 anos atrás, e tem o objectivo de resgatar crianças e mulheres que foram sujeitas a tráfico para exploração sexual ou porque sofrem de abuso e trabalho forçado. A Odanadi foi criada em Mysore por dois jornalistas, o Stanly e o Parashuram, que decidiram fazer alguma coisa para mudar a vida destas crianças e mulheres e ao longo dos anos através do seu empenho e da ajuda de muitos voluntários, conseguiriam criar uma casa que recolhe estas crianças e mulheres e as reintegra na sociedade, orientando-as para superarem uma vida de dor e tristeza, para uma vida de luz, esperança e integridade.


O seu programa de terapia psíquica e social, foi reconhecido na Índia e internacionalmente, como a melhor prática para resgatar e reintegrar as crianças e mulheres que foram vitimas de tráfico humano, abuso sexual e doméstico. O método de terapia da Odanadi é desenvolvido de acordo com as necessidades individuais e utiliza uma série de actividades, como acompanhamento psicológico, técnicas teatrais, yoga, acupuntura, dança, de modo a instituir instrumentos físicos, mentais, emocionais, para que cada criança ou mulher adquira força, confiança e os mais variantes aspectos, para se reintegrar de forma saudável e positiva na sociedade.




Nestes últimos vinte anos, a Odanadi Seva Trust conseguiu salvar mais de 2000 crianças e mulheres, 57 das quais foram resgatadas de bordéis e conseguiram identificar 137 responsáveis por tráfico humano.


www.odanadi-uk.org
www.odanadisevatrust.org
www.yogastopstraffick.org

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Why i love Ashtanga Yoga?



Esta pergunta faz-me recordar os meus dias de prática, os bons e os que foram categorizados de maus, os fáceis, mas também os difíceis, aqueles em que o corpo estava forte e flexível e os que tudo me pesava, os que me fizeram sentir um estado de paz mental, sem assaltos a cada minuto por mais um pensamento e aqueles em que tudo foi agitação e a cada segundo precisava de gritar, para dentro de mim, um "CALA-TEEEE". Os dias em que me senti feliz, tranquila e os dias que o meu emocional esteve á espera de uma qualquer razão aparente, para me fazer soltar uma, duas ou três lágrimas, os dias em que a fluidez da respiração e do movimento, me fizeram acreditar no potencial desta prática e os dias em que os meus condicionamentos físicos, mentais, emocionais e energéticos punham à prova a minha disciplina e força de vontade.


Olhar para trás e recordar práticas, faz-me lembrar do que interpretei como avanços e retrocessos, a felicidade de alcançar determinada postura, o conseguir executar pela primeira vez o Marichyasana D ou a egocêntrica frustração de não conseguir fazer aquele asana, aquele asana que todos os dias trabalhava, que para mim sempre foi o Supta Kurmasana.


Este olhar para trás faz-me caminhar pelo meu mundo de opostos até que relembro aquele instante em que a prática de Ashtanga passou a ser mais que os benefícios físicos, quando me obrigou a começar a trabalhar a minha ansiedade, os meus medos e as minhas inseguranças, quando me fez perceber que tinha de desenvolver força de vontade, disciplina e dedicação e atiçou o tapas necessário para deparar-me com os meus condicionamentos. Assumir as minhas limitações e levantar a cabeça e com consciência, experimentando, errando ou não, caindo ou não, lá vim até aqui. O engraçado é que embora mais sábia e também mais velha, é fácil perceber que ainda tenho tanto que aprender, tanto para trabalhar.


Amo esta prática de Yoga, porque todos os dias me chama a atenção, para inspirar e expirar, no meu ritmo, com profundidade e a devoção necessárias para ir criando uma vida com significado.
Bem-haja Ashtanga Yoga!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Como mudar (III) - o sankalpa


Pela observação e tomada de consciência dos nossos padrões conseguimos perceber os nossos samskaras positivos e os negativos, aqueles que vieram connosco quando nascemos e aqueles que fomos desenvolvendo ao longo dos anos pela correlação com os outros e com o que nos rodeia. Identificar os padrões negativos, aqueles que surgem constantemente e até que os que aparecem sem aviso, é o primeiro passo para os conseguirmos substituir.


Neste contexto interessa conhecer o conceito de Sankalpa, que significa intenção ou resolução, no fundo é o que pretendemos alcançar, é algo que nos ajuda a focar, a concentrar no que queremos atingir. Na prática consiste em dizermos para nós mesmos, uma frase curta, clara, concisa, positiva e colocada no presente, de modo a evocar aspectos positivos, que normalmente estão bloqueados no subconsciente. Pode ser feita mentalmente ou verbalmente e deve ser repetida algumas vezes, há autores que falam em repetir o sankalpa, 3x todos os dias mal se acorde, ou outros que referem que deverá ser feito no início e no fim da nossa prática de Yoga.


Definir um sankalpa significa criar uma resolução sentida, verdadeira e coerente, é um conjunto de palavras conjugadas no presente. Notem que para o Sankalpa ter força, poder, precisa de ser repetido sempre da mesma forma, ou seja serão sempre as mesmas palavras, se um dia dizem de uma maneira e no outro utilizam outras palavras, outro objectivo, deixa de ser Sankalpa e passa a ser apenas um desejo. O Sankalpa é mais que um mero desejo, é uma intenção feita após a identificação de algum aspecto negativo, que tem vindo a surgir na vossa vida vezes sem conta, é uma resolução que pretende ajudar a superar os nossos samskaras negativos. Um propósito sincero, ao qual evocamos diariamente, de modo a recordarmos-nos conscientemente do que pretendemos, uma evocação feita a apartir do coração, que nos incute um caminho, um rumo. E sempre que o samskara antigo "atacar", porque a qualquer momento do dia, sofremos armadilhas dos nossos padrões de comportamento e pensamento, temos o sankalpa para nos recordar para onde queremos ir e munidos de Tapas, de disciplina, focamos-nos para em consciência, criarmos mais tempo entre o impulso e a acção e sem medos colocarmos o que pretendemos em prática.


Seja quando acordarmos, ou quando começamos a prática de Yoga, ou quando lavamos os dentes em frente ao espelho, repetimos o sankalpa, concentrados no que afirmamos, focados em cada uma das palavras, centrando a mente para o momento e aproveitando esta intenção para substituir antigos samskaras.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Como mudar (II)

Quantas vezes nos vemos presos pela repetição de determinado comportamento, ou por sentirmos determinada sensação, emoção ou sentimento? Quantas vezes repetimos para nós mesmos, que vamos mudar, que vamos passar a agir de outra maneira, ou de sentir e pensar de outra forma? Mas sem percebermos, continuamos a repetir estes padrões, tornando-os cada vez mais fortes e profundos.


O Yoga deve ser observando como um reflexo de nós mesmos, um instrumento que nos leva a compreender como somos, um conjunto de técnicas práticas que exploram o nosso potencial como Ser Humano, que orientam o praticante para uma maior consciência de si mesmo. E pela veracidade de nos vermos, temos uma nova capacidade de alterar ou superar todos os condicionamentos que nos bloqueiam de uma vida mais feliz e mais saudável.
Em teoria tudo parece fácil, mas na prática, é um verdadeiro desafio. Superar as condicionantes da nossa mente, abrir as portas da nossa alma, é algo extremamente árduo e por isso muitas das vertentes do Yoga, começam pelo corpo, como no Ashtanga Yoga, ou outra forma de Hatha Yoga.


A mente está constantemente a produzir pensamentos, num segundo a nossa cabeça consegue levar-nos para diversos rumos e se nos identificamos com cada um destes, estamos constantemente ora no passado, ora no futuro. A prática de asana e respiração, mostra-nos o poder do presente, do estar no presente, o estar no momento, ou seja o estar em paz, estar no silêncio, sem a agitação frenética dos pensamentos, das emoções. À medida que a prática de Yoga se torna mais e mais regular, o praticante adquire mais e mais serenidade. 
A respiração (especialmente no Ashtanga Yoga) coordena o movimento e serve de medida para nos auto-observarmos, se repararem que estão a respirar que forma rápida, curta, sem ritmo, o mais provável é que não estejam focados nesta, desliguem-se da mente, retornem a atenção na quantidade de ar que entra pelas narinas e na quantidade de ar que saí, voltem a centrar-se, a sentirem o momento e verão que reencontram um estado de paz. 


Todos temos a hipótese de prestarmos atenção à nossa vida, de prestarmos atenção aquelas situações que repetidamente surgem e que nos fazem sentir mal, experiências que nos deixam sem paz e que conduz-nos a um estado de agitação, um estado negativo. Pela consciência destas situações, experiências, comportamentos, sentimentos, pensamentos, temos a oportunidade de parar o rol contínuo de acção e reacção, observando como reagimos e verificarmos que somos capazes de mudar. Se o padrão está demasiado enraizado, o mais provável é levarmos algum tempo até conseguirmos alterar este samskara. Mas se nos esforçarmos, como nos esforçamos numa primeira fase para esticarmos mais as pernas, alinharmos os braços, ou rodarmos um pouco mais a cabeça nas diversas posturas que temos nas sequências do Ashtanga, vamos aos poucos, lentamente, deixar o sacrifício e de uma forma orgânica, conseguirmos alterar os nossos condicionamentos.  Ou seja, como acontece no processo do nosso Yoga, à medida que somos mais regulares, vamos passando de um esforço físico acentuado para uma prática Sthira e Sukha das posturas, ou seja, conforto e facilidade. 


A observação e a consciência dos samskaras negativos, a correspondente pausa entre estes, e o tempo de reacção, permitem focarmos a mente e optarmos por agir, sentir ou pensar de forma diferente, substituindo antigos samskaras por novos. Sankalpa significa intenção, e utilizado de forma consciente, é um excelente canal de comunicação entre o que pretendemos alcançar e o que nos bloqueia, entre o nosso corpo físico e o nosso corpo mental e emocional. 


O Yoga vê o Ser Humano como um conjunto de corpos, camadas, ou níveis - em sânscrito chamam-se de koshas -  e o Sankalpa, quando usado de forma consciente, é um instrumento eficaz para comunicarmos entre as  camadas que vão desde o nosso corpo à nossa alma.