segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Living in Mysore


O intuito de irmos para Mysore (sul da Índia) é para estudar no Ashtanga Yoga Research Institute, com o Guruji e a sua família. Mysore fica no interior do estado de Karnataka.

Um dia típico começa assim: despertamos cedo, tomar banho, beber um café e ou alongar um pouco, são algumas das opcões. Em grupo, sozinhos, de mota ou a pé, encaminhamo-nos para a escola. Entrámos no Shala,  ouve-se a respiração dos que já praticam, sentamo-nos à porta, cumprimentamo-nos com um sorriso, sem abrirmos a boca. Dentro da sala assistimos ao Guruji a ajustar, podemos ouvir  a voz do seu neto, Sharath, a dizer " One more" ao terminar mais um backbending (one more - siginifca que um de nós vai entrar. Naquelas horas, eles não param e nós também, eles ajustam, ensinam e nós revesamo-nos...sai um, entra outro). Também Saraswati (a sua filha) ajusta, ali está a família no seu melhor! 

Sente-se o calor na sala, os corpos transpiram profusamente. O nível de prática é elevado. No tempo de espera, perdemo-nos na observação daqueles que se dobram para a frente, para trás, para os lados, cada um no seu ritmo, cada um na sua série. É estimulante vermos os praticantes, especialmente os avançados.

Quando temos a indicação para entrarmos, estendemos o nosso tapete no espaço solicitado e dirigimo-nos para o balneário, a onde deixamos os nossos pertences, também aqui estão praticantes fazerem as suas posturas finais e outros já descansam.

Subimos ao tapete e lá vamos nós, no primeiro Surya Namascar vemos e sentimos o corpo a escorrer suor. Uns dias, estamos soltos e leves, noutros o corpo está rijo.Uns dias a concentração ultrapassa barreiras, é  como se estivéssemos sozinhos na sala, nós e a nossa respiração. Noutros passeamo-nos pela mente, perdemo-nos em cada pensamento. Aqui fica representada a dualidade normal de quem caminha pelo Yoga. O fácil versus o difícil, o simples versus complicado, a flexibilidade face á rigidez, o cansaço sobre a energia e a  resistência, a concentração e o devaneio mental, a estabilidade emocional e o desequilíbrio, a paz e a guerra interior, a liberdade e a constante inquietação..

No final da prática, depois do descanso,  fazemos uma referência ao Guruji em sinal de respeito, passamos pelo Sharath e a Saraswati (que continuam a ensinar) e com as mãos unidas em frente ao peito, baixamos um pouco a cabeça em sinal de agradecimento. Abrimos a porta do shala e é de dia, cá fora vemos o Beg a cortar cocos e a servi-los aos praticantes, que vão bebendo a  água deste fruto enquanto confraternizam uns com os outros.  Cá fora ouvem-se línguas dos quatro cantos do mundo, vamos conhecendo praticantes de todos os lados. Passou  mais uma prática, mais uma aprendizagem.Depois do "convívio", subimos ruas ou descemos até casa, uns dias arrastamo-nos, de tão doloridos que estamos, chegamos a casa e deitamo-nos na cama ficando ali horas. De olhos abertos a olhar o tecto branco, ouvesse as vozes dos vendedores de rua e os gemidos das vacas que teimam andar por todo o lado, sentam-se em plena estrada, as buzinas e os ruídos das manobras dos carros e motas a contornar os obstáculos vivos, a ventoinha no tecto deixa circular algum ar fresco no quarto. E ali, ora de olhos abertos a escutar e a sentir, ora de olhos fechados a dormitar, vivemos intensamente a paragem da mente. Outros dias vamos energeticamente pelas ruas, sorrimos a todos, quase que não sentimos os pés a tocar o chão, como se voassemos. A felicidade e a leveza mantiveram-se e vêem connosco celebrar mais um dia... 

Mysore... Não há melhor lugar para se praticar Yoga. Não há melhores professores. Estamos ali, vivemos intensamente cada momento, como só a Índia nos permite. Mysore. Há quem lhe  chame a terra da felicidade, a terra dos sonhos... Para nós é a pausa merecida de tantas aulas que damos, de tantas horas a ensinar...em Mysore, somos novamente e só alunos!