domingo, 23 de outubro de 2011

...moving on.


Somos todos humanos e de vez em quando agimos mal, mas mesmo com esta noção, durante bastantes anos senti uma certa desilusão e guardei mágoa por algumas pessoas que se cruzaram no meu caminho, todos praticantes há mais tempo que eu e todos professores há bem mais tempo que eu. Pessoas que face a tantos anos de prática de Yoga, considerei e julguei que deveriam ter tido determinada atitude e maneira de estar. Guardei dentro de mim vários episódios que cedo fizeram-me perceber que ser praticante e professor de Yoga, não significava sermos Seres Humanos perfeitos, Seres Iluminados sem defeitos e no entanto não consegui deixar de olhar com pouca tolerância, os comportamentos Egocêntricos, as vaidades extremas, os interesses exagerados, os jogos falsos de mostrarem que são algo, quando na realidade não o são.

O ensino obrigou-me a tomar mais responsabilidade pela minha prática, mas nem por isso foi simples ganhar a consistência e disciplina que o Ashtanga Yoga obriga. Demorei anos a construir a minha prática de Yoga e quando optei por praticar sozinha, sabia as consequências desta escolha. Não ter um professor quotidianamente foi diversas vezes complicado, tinha inúmeras dúvidas, confusões, o que derivou em muitos erros e tentativas, uma aprendizagem pela experiência e por bater muitas vezes com a cabeça na parede e sabem que mais? Doía e custava muito não ter uma pessoa a quem pudesse perguntar ou pedir conselhos e direcções.

Cada vez mais, reconheço a importância de ter um professor, alguém em quem confiarmos, onde não há espaço para ressentimentos ou críticas. Ninguém é perfeito, todos temos acções menos boas e ter um professor é um privilégio, vir à Índia estudar com o meu, tem sido sem dúvida uma enorme oportunidade, mas devo reconhecimento e gratidão a todos os que me instruíram. Chega uma altura que há que largar a bagagem do passado e simplesmente seguir em frente e por isso as minhas desculpas pela demora e o meu sincero obrigada pela atenção e cuidado que tiveram enquanto me ensinaram os alicerces desta prática, durante anos fizeram parte do meu puja e estou-vos imensamente agradecida.

Percebo que ser professor não é fácil. Temos de separar bem os nossos papéis e mesmo assim pode acontecer agirmos mal, de vez em quando pode acontecer magoarmos alguém, mas se o professor tiver o coração puro, com certeza que os seus actos não foram feitos com o propósito de causar o mal, porque andar aqui a dobrarmos-nos para todo o lado, acaba por afectar a nossa mente e coração e gosto de pensar e de manter a fé que um dia, mais cedo ou mais tarde, tornamos-nos melhores pessoas.

Por isso fico angustiada quando passado tanto tempo e com total reconhecimento e aceitação que ninguém é perfeito e que a prática de Yoga desenvolve o nosso discernimento e deixa-nos mais em paz com o lado crítico, volto a cruzar-me com pessoas que fingem que são grandes Yoguis, grandes "Shantis Shantis", pura ficção. E que na sua vida privada, quando estão longe dos alunos, são pessoas violentas, pessoas mentirosas, controladoras, mas no dia a seguir estão em cima do tapete e até fazem segunda ou terceira série, levam os corpos para as posturas, porque com toda a certeza a cabeça e o coração estão longe de estarem presentes. Enfim... moving on... e darmos o nosso melhor, sem ficarmos com os actos dos outros dentro de nós.
Obrigada.

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