domingo, 27 de março de 2016

THE ROAD TO SELF-RECOVERY - through an Ashtanga practice!

Há muitos anos que sei que a alimentação é peça indispensável para a eficácia da minha prática de Ashtanga. Há muitos anos que procuro encontrar uma relação estável e saudável com a minha alimentação como alicerce para uma prática de Ashtanga forte, profunda e integrada, mas também  como instrumento para trazer e manter saúde e bem-estar no meu corpo. Aqueles que me conhecem há anos sabem o quanto foi difícil fazer as pazes com a comida. Quanto tempo demorei, quantos erros e milhentas tentativas ultrapassei, até conseguir internamente abraçar uma forma de alimentação onde vivesse energia e força física, paz mental e emocional. Durante anos fui testando, fui sentindo, fui procurando, bati muitas vezes com a cabeça, perdi-me em tantas outras, voltei atrás no processo que iniciava, para recomeçar tudo outra vez, como boa escorpiã que sou! Até que um dia, dei-me conta que estava em paz, que conseguia  e consigo passar dias a alimentar-me bem, que o meu corpo está estável e que a minha mente tem energia e foco.

Há uns anos atrás estava a ensinar uma aula privada, e o meu aluno em conversa pós-aula comentou, "...pois a Vera não tem o corpo normal dos Yoguis!", imaginem a minha cara? Ouvi, mudei sorrateiramente o tema da conversa, e despachei o aluno. Para depois sentar-me no sofá da entrada do Shala antigo e ficar a pensar naquilo, " não tenho o corpo normal dos Yoguis!". Durante anos vinha a Mysore e naturalmente e humanamente comparava-me com as minha amigas, todas esguias, magras, com os músculos muito tonificados. Sentia-me a "gordinha" do grupo. E a minha mente recarregava-me  de pressão negativa, o que originava, mais culpa, mais frustração, mais sensação de estar perdida dentro de mim mesma, e menor sensação de pertença a este grupo de "corpos normais de Yogui"! Acabava por subir ao tapete com todas estas emoções, que tentava conscientemente recalcar dentro de mim, vivia práticas difíceis, porque uma prática regular de Ashtanga permite que estes e outros sentimentos venham ao de cima, que eu artisticamente empurrava  para baixo. Mas ao longo dos anos fui encontrando um equilíbrio entre o que comer, quanto comer, quando comer, e pelo caminho desenvolvi a minha prática de Ashtanga e um gosto incrível por cozinhar, li muitos livros de alimentação, testei receitas, reparei como digeria determinado conjunto de alimentos,  anotei o que sentia antes e depois de comer determinadas comidas, tirei conclusões, fazendo o meu próprio auto-estudo. Fui-me abaixo muitas vezes, porque a minha mente tinha padrões, coisas que nasceram lá na minha infância, que se fortaleceram na minha adolescência e que caminharam dentro de mim e comigo em plena idade adulta. Era visível que tinha questões por resolver de amor próprio e confiança em mim mesma. Durante o processo de cura dos meus distúrbios alimentares, a minha prática foi ficando mais forte, e a minha mente mais limpa e determinada. Enquanto passei por tudo isto, já ensinava Ashtanga e foram várias as vezes, que apareceram alunas, sempre mulheres, que demonstravam os mesmos problemas que os meus, pouco amor por si, nítida falta de confiança, e muitos problemas com a forma como se alimentavam, usando a alimentação como escape de si mesmas e como conforto emocional. Vinham fazer desabafos e pedir conselhos e eu ficava  triste e incomodada, porque sentia-me culpada  por ainda estar a fazer a minha cura e por ainda não ter receitas milagrosas  que as fizessem não viver aquelas dificuldades que eu tanto conhecia. Lá tentava ajudá-las falando da importância da prática, de manterem uma regularidade no tapete, de deixarem que as emoções viessem ao cima, por mais difícil que fosse lidar com elas.  Que repararem-se como se sentiam quando comiam determinado alimento, como era o processo digestivo, etc. Basicamente aconselhava-as com os conselhos que testava em mim mesma. Os anos passaram, a minha prática ficou mais forte, mesmo tendo que voltar atrás, de ter de muitas vezes de regressar a praticar somente Primeira Série, ajudou-me muito a regularidade no tapete, as tais emoções vieram ao cima e eu tive de estar e lidar com elas e despedir-me delas com um abraço sentido, de viajar lá atrás à minha infância, olhar de perto aquilo que em determinada altura da minha vida tinha causado uma ferida profunda e uma cicatriz para todos estes anos recordar,  e que eu compensei com um doce, aliás com vários doces. Ajudou muito a pesquisa e observação interna pela prática.

Nesta altura do ano, vejo muitas mulheres, alunas, amigas, amigas de amigas, na procura milagrosa para emagrecerem, para comerem de forma saudável, para encontrarem liberdade nos seus corpos. Normalmente porque sentem a pressão do verão, e das idas à praia, e das roupas desta estação, que são mais leves e mais curtas, onde o corpo passa a estar mais à mostra, entram em conflito com a sua imagem corporal, sentem-se frustradas de como comem, de como estão. E procuram tudo que traga resultados rápidos, invés de olharem para dentro delas e sentarem-se consigo mesmo. Eu não tenho milagres mas posso falar-vos da prática de Ashtanga! Que limpa o corpo por dentro, que desintoxica até à alma, às vezes o processo é lento, pode levar anos, mas para outras pessoas pode acontecer de um dia para o outro, porque ganham uma oportunidade, vontade e garra para proceder à mudança dos padrões de pensamento e comportamento. Mais que dietas "ioio",  corridas forçadas junto ao rio, caminhadas em passo rápido pelo paredão,  vindas ao Shala para praticarem e transpirarem muito, há que olhar para dentro, deixar o processo acontecer e amarem-se mais, cuidarem de vocês internamente com maior amor e como Sharath falou nesta última conferência de Março, precisamos de "determinação, de dedicação e devoção" para avançar com a nossa prática, mas muito para avançarmos com a nossa vida rumo aquilo que acreditamos, seja por um corpo mais saudável, uma mente mais limpa, um coração em paz. Com uma prática de Ashtanga e uma alimentação cuidada, conseguimos o tal do corpo Yogui, mas acima de tudo, limpamos a alma e sentimo-nos livres das garras da mente.  Força para todas e todos! Boas tentativas! Boas práticas!

EN
For many years I know that food is an indispensable aspect for the efficiency of my Ashtanga practice. For many years I tried to find a stable and healthy relationship with my food as the foundation for a strong, deep and integrated Ashtanga practice, but also as a tool to bring and maintain health and well-being in my body. Those who know me for years know how hard it was to make peace with the food. How long i took, how many mistakes and thousands of attempts i passed over until i could  internally embrace a form of eating where allowed me to  live power and physical strength, mental and emotional peace. For years I tested, I felt, I tried, i hit often with my head in wall as  I lost myself many times, to come back to the process i started, and start all over again, as good scorpion I am! Until one day, I realized that I was in peace, I could and I can spend days to feed me well, my body is stable and my mind has energy and focus.

A few years ago I was teaching a private lesson, and my student in a post-class talk, said, "because Vera, you do  not have the  normal Yogui body!", imagine my face, i heard it, stealthily I changed the topic of conversation and dispatched the student. And then, i sat in the old entrance Shala couch and  thought about it, "I don´t have the normal Yogui body!". For years i came to Mysore and naturally and humanely compared myself with my friends, all slim, thin, with very toned muscles. I felt the "chubby" of the  group. And my mind reloaded me with negative pressure,  creating even more guilt,  frustration, feeling of being lost within myself and less sense of belonging to this group of "normal Yogui bodies!" Would go to the mat with all these emotions, trying consciously repress them in me and i  lived difficult practices, because a regular practice of Ashtanga allows these and other feelings come to the surface, and for years I've been artistically pushing them down. A long the years  i found a balance between what to eat, how much to eat, when to eat.  On the way I developed my Ashtanga practice, but also an incredible taste for cooking, read many healthy food books, tested recipes,  noticed how certain digested food joint, what i felt before and after i ate different foods,  drew conclusions, made my own self-study. I went down many times, all because my mind had patterns, things that were born in my childhood, got strengthened in my teens and walked inside and with me at full adulthood. It was visible that had unresolved issues of self loved and confidence. During my healing process of my eating disorder, my practice got stronger and my mind became clear and determined. While going through all this, i was already teaching Ashtanga and there were several times that appeared student, always women, who showed the same problems as my, low self-esteem, lack of confidence, and many problems with how they fed themselves,  by using food as an escape from themselves, and as emotional comfort. They would talked with me about it and ask for my advices. I was very sad and bothered with this, because I felt guilty that i was still doing my healing and i didn´t have miraculous remedies that would helped them no to live those difficulties, that i so knew. I tried to help them talking about the importance of practice, to maintain a regularity on the mat, to allowed the  emotions to come to the surface, no matter how difficult it was to deal with them, to gain awareness on what they felt, how they would feel when they were eating certain food, how was their digestive process, etc. I advised them with the advices that i would test in myself. The years passed, my practice grew stronger, even having to go back on it, having to often return to only practicing First Series, it helped me a lot the regularity on the mat, the emotions came to the surface and I had to be and deal with them, for being able to say goodbye to them with a huge hug, i  had travelled back to my childhood, to look closely at what at some point of my life had caused a deep wound and a scar to remember all these years, which I compensated with a sweet, indeed with various sweets.It greatly help the internal research and observation through the Ashtanga practice.

 This time of year, I see many women, students, friends, friends of friends, miraculous looking to get thin, to eat healthily, to find freedom in their bodies. Usually because they feel the summer pressure, and the trips to the beach, and this season clothes, which are lighter and shorter, where the body appear more, the  conflict with their body image, the frustration with  how they eat, how they are. They try everything to bring quick results, instead of looking internally and sitting with themselves.
 I have no miracles, but I can tell you about the practice of Ashtanga! Which cleans the body inside, detoxifies to the soul, sometimes the process is slow, it may take years, but for others can happen from one day to the other, because they earn an opportunity, will and determination to make the changing of thought and behavior patterns. More than "yoyo"diets, forced races along the river, step fast walks on the boardwalk, or coming to the Shala to practice and sweat as much you can, you should  look inside, let the process happen and love yourself more, take care of yourself internally with greater love and like Sharath said this  last March conference, we need "determination, dedication and devotion" to proceed with our practice, but also to move forward with our lives toward what we believe, whether for a healthier body, a cleaner mind, a heart in peace. With a practice of Ashtanga and a careful diet, we get the Yogui body, but above all, we clean the soul and we feel free from the clutches of the mind. Strength to all! Happy trying! Happy practicing! 

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