domingo, 27 de março de 2016

THE ROAD TO SELF-RECOVERY - through an Ashtanga practice!

Há muitos anos que sei que a alimentação é peça indispensável para a eficácia da minha prática de Ashtanga. Há muitos anos que procuro encontrar uma relação estável e saudável com a minha alimentação como alicerce para uma prática de Ashtanga forte, profunda e integrada, mas também  como instrumento para trazer e manter saúde e bem-estar no meu corpo. Aqueles que me conhecem há anos sabem o quanto foi difícil fazer as pazes com a comida. Quanto tempo demorei, quantos erros e milhentas tentativas ultrapassei, até conseguir internamente abraçar uma forma de alimentação onde vivesse energia e força física, paz mental e emocional. Durante anos fui testando, fui sentindo, fui procurando, bati muitas vezes com a cabeça, perdi-me em tantas outras, voltei atrás no processo que iniciava, para recomeçar tudo outra vez, como boa escorpiã que sou! Até que um dia, dei-me conta que estava em paz, que conseguia  e consigo passar dias a alimentar-me bem, que o meu corpo está estável e que a minha mente tem energia e foco.

Há uns anos atrás estava a ensinar uma aula privada, e o meu aluno em conversa pós-aula comentou, "...pois a Vera não tem o corpo normal dos Yoguis!", imaginem a minha cara? Ouvi, mudei sorrateiramente o tema da conversa, e despachei o aluno. Para depois sentar-me no sofá da entrada do Shala antigo e ficar a pensar naquilo, " não tenho o corpo normal dos Yoguis!". Durante anos vinha a Mysore e naturalmente e humanamente comparava-me com as minha amigas, todas esguias, magras, com os músculos muito tonificados. Sentia-me a "gordinha" do grupo. E a minha mente recarregava-me  de pressão negativa, o que originava, mais culpa, mais frustração, mais sensação de estar perdida dentro de mim mesma, e menor sensação de pertença a este grupo de "corpos normais de Yogui"! Acabava por subir ao tapete com todas estas emoções, que tentava conscientemente recalcar dentro de mim, vivia práticas difíceis, porque uma prática regular de Ashtanga permite que estes e outros sentimentos venham ao de cima, que eu artisticamente empurrava  para baixo. Mas ao longo dos anos fui encontrando um equilíbrio entre o que comer, quanto comer, quando comer, e pelo caminho desenvolvi a minha prática de Ashtanga e um gosto incrível por cozinhar, li muitos livros de alimentação, testei receitas, reparei como digeria determinado conjunto de alimentos,  anotei o que sentia antes e depois de comer determinadas comidas, tirei conclusões, fazendo o meu próprio auto-estudo. Fui-me abaixo muitas vezes, porque a minha mente tinha padrões, coisas que nasceram lá na minha infância, que se fortaleceram na minha adolescência e que caminharam dentro de mim e comigo em plena idade adulta. Era visível que tinha questões por resolver de amor próprio e confiança em mim mesma. Durante o processo de cura dos meus distúrbios alimentares, a minha prática foi ficando mais forte, e a minha mente mais limpa e determinada. Enquanto passei por tudo isto, já ensinava Ashtanga e foram várias as vezes, que apareceram alunas, sempre mulheres, que demonstravam os mesmos problemas que os meus, pouco amor por si, nítida falta de confiança, e muitos problemas com a forma como se alimentavam, usando a alimentação como escape de si mesmas e como conforto emocional. Vinham fazer desabafos e pedir conselhos e eu ficava  triste e incomodada, porque sentia-me culpada  por ainda estar a fazer a minha cura e por ainda não ter receitas milagrosas  que as fizessem não viver aquelas dificuldades que eu tanto conhecia. Lá tentava ajudá-las falando da importância da prática, de manterem uma regularidade no tapete, de deixarem que as emoções viessem ao cima, por mais difícil que fosse lidar com elas.  Que repararem-se como se sentiam quando comiam determinado alimento, como era o processo digestivo, etc. Basicamente aconselhava-as com os conselhos que testava em mim mesma. Os anos passaram, a minha prática ficou mais forte, mesmo tendo que voltar atrás, de ter de muitas vezes de regressar a praticar somente Primeira Série, ajudou-me muito a regularidade no tapete, as tais emoções vieram ao cima e eu tive de estar e lidar com elas e despedir-me delas com um abraço sentido, de viajar lá atrás à minha infância, olhar de perto aquilo que em determinada altura da minha vida tinha causado uma ferida profunda e uma cicatriz para todos estes anos recordar,  e que eu compensei com um doce, aliás com vários doces. Ajudou muito a pesquisa e observação interna pela prática.

Nesta altura do ano, vejo muitas mulheres, alunas, amigas, amigas de amigas, na procura milagrosa para emagrecerem, para comerem de forma saudável, para encontrarem liberdade nos seus corpos. Normalmente porque sentem a pressão do verão, e das idas à praia, e das roupas desta estação, que são mais leves e mais curtas, onde o corpo passa a estar mais à mostra, entram em conflito com a sua imagem corporal, sentem-se frustradas de como comem, de como estão. E procuram tudo que traga resultados rápidos, invés de olharem para dentro delas e sentarem-se consigo mesmo. Eu não tenho milagres mas posso falar-vos da prática de Ashtanga! Que limpa o corpo por dentro, que desintoxica até à alma, às vezes o processo é lento, pode levar anos, mas para outras pessoas pode acontecer de um dia para o outro, porque ganham uma oportunidade, vontade e garra para proceder à mudança dos padrões de pensamento e comportamento. Mais que dietas "ioio",  corridas forçadas junto ao rio, caminhadas em passo rápido pelo paredão,  vindas ao Shala para praticarem e transpirarem muito, há que olhar para dentro, deixar o processo acontecer e amarem-se mais, cuidarem de vocês internamente com maior amor e como Sharath falou nesta última conferência de Março, precisamos de "determinação, de dedicação e devoção" para avançar com a nossa prática, mas muito para avançarmos com a nossa vida rumo aquilo que acreditamos, seja por um corpo mais saudável, uma mente mais limpa, um coração em paz. Com uma prática de Ashtanga e uma alimentação cuidada, conseguimos o tal do corpo Yogui, mas acima de tudo, limpamos a alma e sentimo-nos livres das garras da mente.  Força para todas e todos! Boas tentativas! Boas práticas!

EN
For many years I know that food is an indispensable aspect for the efficiency of my Ashtanga practice. For many years I tried to find a stable and healthy relationship with my food as the foundation for a strong, deep and integrated Ashtanga practice, but also as a tool to bring and maintain health and well-being in my body. Those who know me for years know how hard it was to make peace with the food. How long i took, how many mistakes and thousands of attempts i passed over until i could  internally embrace a form of eating where allowed me to  live power and physical strength, mental and emotional peace. For years I tested, I felt, I tried, i hit often with my head in wall as  I lost myself many times, to come back to the process i started, and start all over again, as good scorpion I am! Until one day, I realized that I was in peace, I could and I can spend days to feed me well, my body is stable and my mind has energy and focus.

A few years ago I was teaching a private lesson, and my student in a post-class talk, said, "because Vera, you do  not have the  normal Yogui body!", imagine my face, i heard it, stealthily I changed the topic of conversation and dispatched the student. And then, i sat in the old entrance Shala couch and  thought about it, "I don´t have the normal Yogui body!". For years i came to Mysore and naturally and humanely compared myself with my friends, all slim, thin, with very toned muscles. I felt the "chubby" of the  group. And my mind reloaded me with negative pressure,  creating even more guilt,  frustration, feeling of being lost within myself and less sense of belonging to this group of "normal Yogui bodies!" Would go to the mat with all these emotions, trying consciously repress them in me and i  lived difficult practices, because a regular practice of Ashtanga allows these and other feelings come to the surface, and for years I've been artistically pushing them down. A long the years  i found a balance between what to eat, how much to eat, when to eat.  On the way I developed my Ashtanga practice, but also an incredible taste for cooking, read many healthy food books, tested recipes,  noticed how certain digested food joint, what i felt before and after i ate different foods,  drew conclusions, made my own self-study. I went down many times, all because my mind had patterns, things that were born in my childhood, got strengthened in my teens and walked inside and with me at full adulthood. It was visible that had unresolved issues of self loved and confidence. During my healing process of my eating disorder, my practice got stronger and my mind became clear and determined. While going through all this, i was already teaching Ashtanga and there were several times that appeared student, always women, who showed the same problems as my, low self-esteem, lack of confidence, and many problems with how they fed themselves,  by using food as an escape from themselves, and as emotional comfort. They would talked with me about it and ask for my advices. I was very sad and bothered with this, because I felt guilty that i was still doing my healing and i didn´t have miraculous remedies that would helped them no to live those difficulties, that i so knew. I tried to help them talking about the importance of practice, to maintain a regularity on the mat, to allowed the  emotions to come to the surface, no matter how difficult it was to deal with them, to gain awareness on what they felt, how they would feel when they were eating certain food, how was their digestive process, etc. I advised them with the advices that i would test in myself. The years passed, my practice grew stronger, even having to go back on it, having to often return to only practicing First Series, it helped me a lot the regularity on the mat, the emotions came to the surface and I had to be and deal with them, for being able to say goodbye to them with a huge hug, i  had travelled back to my childhood, to look closely at what at some point of my life had caused a deep wound and a scar to remember all these years, which I compensated with a sweet, indeed with various sweets.It greatly help the internal research and observation through the Ashtanga practice.

 This time of year, I see many women, students, friends, friends of friends, miraculous looking to get thin, to eat healthily, to find freedom in their bodies. Usually because they feel the summer pressure, and the trips to the beach, and this season clothes, which are lighter and shorter, where the body appear more, the  conflict with their body image, the frustration with  how they eat, how they are. They try everything to bring quick results, instead of looking internally and sitting with themselves.
 I have no miracles, but I can tell you about the practice of Ashtanga! Which cleans the body inside, detoxifies to the soul, sometimes the process is slow, it may take years, but for others can happen from one day to the other, because they earn an opportunity, will and determination to make the changing of thought and behavior patterns. More than "yoyo"diets, forced races along the river, step fast walks on the boardwalk, or coming to the Shala to practice and sweat as much you can, you should  look inside, let the process happen and love yourself more, take care of yourself internally with greater love and like Sharath said this  last March conference, we need "determination, dedication and devotion" to proceed with our practice, but also to move forward with our lives toward what we believe, whether for a healthier body, a cleaner mind, a heart in peace. With a practice of Ashtanga and a careful diet, we get the Yogui body, but above all, we clean the soul and we feel free from the clutches of the mind. Strength to all! Happy trying! Happy practicing! 

domingo, 20 de março de 2016

YES, THERE IS AN ASHTANGA YOGA TEACHING AND PRACTICE METHODOLOGY

Estava ainda em Portugal, quando recebi um telefonema de uma aluna, queria falar comigo sobre as posturas que estava a fazer. Não entendia porque é que estava "parada" em determinada posição, e porque é que as suas outras amigas já estavam a fazer algumas posturas da Segunda Série. Questionava a sua prática e comparava-se com as amigas, eu lá fui escutando as suas perguntas, enquanto reparava na alegria da Biga a correr de um lado para o outro no campo atrás da nossa casa, feliz na vivência daquele momento, pela liberdade e agilidade do seu corpo, com toda uma energia e vontade em divertir-se apesar da sua já visível caminhada para uma vida em idade sénior. Afastei a minha atenção da Biga, e procurei explicar ao máximo a metodologia de ensino e prática do Ashtanga Yoga, segundo a tradição que sigo, a de Shri K. Pattabhi Jois e de Sharath Jois.
Esta prática acenta num ensino pessoal e individual, porque cada aluno tem condições e necessidades distintas, níveis de aprendizagem diferentes,  todos temos corpos, mentes e histórias de vida que por vezes até podem ter aspectos semelhantes, mas que na realidade nunca são iguais. Todos começamos por aprender a Primeira Série do Ashtanga Yoga, a chamada YOGA CHIKITSA, ou Yoga terapia, que tem como objectivo uma profunda desintoxicação do corpo. A aprendizagem consiste que a postura anterior irá preparar a próxima. O aluno recebe um conjunto de posturas para estabelecer a conexão entre respiração/ movimento, para melhorar e memorizar. Muitas vezes, o aluno fica "parado" na mesma postura por algum tempo, até que esta seja entendida, compreendida e melhor executada. O estar "parado" não significa estar bloqueado na prática, pelo contrário, a repetição das sequências é uma das características do Ashtanga, repetimos as posturas dia após dia, para superarmos dificuldades, bloqueios físicos, mentais, emocionais, energéticos, limpando o corpo e focando a mente para uma prática cada vez mais meditativa. Eis o porquê da repetição, que a prática seja uma meditação em movimento!

Quando estamos "parados" em determinada postura, há uma enorme tendência a sentirmos frustração e outras emoções fortes, a mente dispersa, e iniciamos um diálogo interno nada positivo. O GURUJI afirmava que pela prática constante de Ashtanga Yoga que conseguiríamos limpar o nosso corpo dos 6 inimigos do coração, ..." A vital aspect of internal purification that Pattabhi Jois teaches relates to the six poisons that surround the spiritual heart. (...) six poisons: kama, krodha, moha, lobha, matsarya, and mada. These are desire, anger, delusion, greed, envy and sloth. When yoga practice is sustained with great diligence and dedication over a long period of time, the heat generated from it burns away these poisons, and the light of our inner nature shines forth. " (retirado de www.kpjayi.org). Há quem chore, há quem refile, há quem passe tudo o que sente para cima do professor, todos os seis venenos tendem a vir ao cima, desejo, raiva, ilusão, ganância, inveja e preguiça. Não é fácil vivenciar estes aspectos, é mais fácil ficar com todos bem recalcados dentro de nós mesmo, invés de com paciência, humildade e prática, irmos aceitando onde estamos, para abrirmos o coração, entregar e confiarmos no professor. Se fizermos este processo algo muito bonito acontece, realmente os tais 6 venenos vão indo embora do nosso corpo e mente, e quando damos por ela, recebemos a tal próxima postura, ou conjunto de posturas. É um processo muito especial, interno, único, de real conexão e integração à nossa essência, mas também de real conexão com os nossos professores.
O Ashtanga Yoga deve ser praticado com um professor, o professor acompanha diariamente a nossa prática, observa, corrige, ajusta, apoia e quando estamos preparados, mesmo quando achamos que já estamos preparados há meses, às vezes há anos, ele ensina-nos a próxima ou próximas posições. Existe um tempo para mantermos as posturas, o professor não nos "pára" em determinada postura, porque está a castigar-nos. Pelo contrário, somos parados, para sentir, para trabalhar, para superar. É comum que depois de algum tempo, que mesmo que continuemos com dificuldades em determinada postura, que o professor ensine a próxima, porque houve um trabalho entre aluno e professor, houve tempo de observação interna por parte do aluno e externa por parte do professor. Isto não é inventado por mim, é o que se passa aqui em Mysore, é o que Sharath nos ensina. As posturas são ensinadas com uma função, não são dadas ao acaso, cabe a cada um de nós trabalhar no nosso Yoga, sem mentiras, sem ilusões, sem desvios, especialmente sem enganos, a nós mesmos.

Houve uma postura em particular que me obrigou a ficar "parada" durante 4 anos, vinha aqui a Mysore e estava dois meses, sem que o meu professor me dissesse nada, a não ser, " YOU CAN DO IT VERA!". Eu chorei tantas vezes naquela postura, dentro do Shala, no descanso, em casa. Era uma posição que me dava medo, que me dava ansiedade, que me obrigava a tocar em todas as minhas frustrações. E ele apenas vinha ajustar-me, de quando em quando, sempre que vinha, era tão fácil fazer a postura, dizia-me baixinho, " YOU SEE, VERY POSSIBLE!",  e eu pensava "Sim, é possível contigo a ajustar-me!". E lá acabava mais uma temporada de estudo ainda na mesma posição, não entendia porque me deixava ali, via-me a sofrer e não fazia mais nada a não ser sentar-se na sua cadeira e observar-me, enquanto eu repetia, uma, duas, três, às vezes quatro vezes a postura. Até que houve um ano que eu comecei a fazer a postura  e ele deu-me as próximas posições. É uma posição que eu já voltei a perder, porque fui preguiçosa, por estar cansada de tanto ensinar e quando ia para o meu tapete, invés de focar-me em fazer a totalidade da postura, fazia menos, até que a perdi. Voltei a ter de vir a Mysore e reconstruir a posição, ele voltou a ajustar-me e dizer-me " YOU CAN DO IT.", já não sinto medo, frustração, ou choro, reconstruir a posição deu-me a lição que quer esteja aqui, ou aí, mais cansada ou menos, que há que manter a dedicação. De odiar esta postura passei a amá-la, é linda, adoro reparar que aula para aula, de prática para prática que o corpo vai cedendo, que mesmo quando está com dor, ou mais saturado, que nitidamente há uma melhoria pela constante repetição. As emoções que outrora vinham ao de cima, hoje são outras, a respiração que antes corria dentro de mim, como se estivesse em plena corrida de velocidade, hoje é uma respiração calma.
As posturas são ensinadas com tempo, há regras no ensino do Ashtanga Yoga, há posturas chave nas sequências,  onde permanecemos mais tempo, às vezes anos, 4, 5, 7, 10 anos na mesma postura, e invés de ficarmos zangados com o professor, frustados com o método, aborrecidos connosco mesmo, que tenhamos uma atitude de relaxar, entregar, praticar com dedicação e esperar que o corpo solte, esta prática é para a vida, quando temos 20 anos, 30, 40, 50, 60, 70 anos... Agora mentir, mentir não vale a pena! Mentir ao professor, mas pior que isso, mentir a nós mesmos?! É de todo o contrário do que é o Yoga. Na primeira Conferência de Março, Sharath disse que o nosso problema, é compararmos com os outros, "oh aquela pessoa está fazer até aquela postura! E o outro está fazer aquela ...", deve existir humildade, perseverança, dedicação e acima tudo, respeito!
Se estiverem "parados" nalguma postura, tenham calma, respirem, procurem sentir os ajustes que os vossos professores fazem, tentem reproduzir esse mesmo ajuste quando estão a praticar sozinhos, e aos poucos, acreditem, o corpo cede e conseguirmos entrar na posição, permanecer, manter o foco e o " ONE MORE" logo acontece. Mas não cedam à egocêntrica tentação de mentirem onde estão, especialmente se vão praticar com outro professor, sejam verdadeiros de qual é a vossa última postura, se é ainda a meio da Primeira Série, se é no final da Primeira a trabalharem os vossos Dropbacks. Se é no começo da 2ª Série, se ainda  estão bem longe do meio da Intermediate Serie, mas sejam verdadeiros com vocês mesmos, e mostrem respeito pelos vossos professores, assumindo a tradição deixada por Guruji e continuada por Sharath e esperem, mesmo que por anos, a próxima postura logo surge.

EN
I was still in Portugal, when I received a call from a student, she wanted to talk to me about the positions she was doing. She did not understand why she was "stop" in a certain position, and why her other friends were already doing some postures of the Second Series.  She questioned the practice and compared herself with her friends, I was there listening to her questions, as noticed in the joy of Biga running from one side to the other in the field behind our house, happy in the experience of that moment, the freedom and agility of her body with a whole energy and willingness to have fun despite her already visible walk to a life in senior age. I pulled my attention from Biga, and tried to explain as best i could,  the teaching and practice methodology of the Ashtanga Yoga, according to the tradition that i follow, from Shri K. Pattabhi Jois and Sharath Jois.
This practice is taught respecting the person and his/her individuality, because each student has conditions and different needs, different levels of learning, we all have bodies, minds and life stories that sometimes even may have similar aspects, but in reality are never equal. We all start to learn the First Series of Ashtanga Yoga, the so-called Yoga Chikitsa, or Yoga Therapy, which aims a deep detoxification of the body.  It is learn that the previous posture will prepare the next. The student receives a set of postures to establish the connection between breathing / movement to improve and to memorize. Often the student is "stopped" in the same posture for some time until it is understood and better executed. Being "stopped" means not being blocked in practice, but the repetition of sequences is one of the Ashtanga features, we repeat day after day the same set of postures to overcome difficulties, physical, mental, emotional, energetic blockages, cleansing the body and focusing the mind for a practice increasingly meditative. Here's why we repeat, for the practice become a moving meditation!

When we are "stuck" at a certain position, there is a huge tendency to feel frustration and other strong emotions, scattered mind, and began a no positive internal dialogue. Guruji said that through the practice of Ashtanga Yoga that we could clean our body of the 6 enemies of the heart ... "A vital aspect of internal purification that Pattabhi Jois teaches relates to the six poisons that surround the spiritual heart. (...) six poisons: kama, krodha, moha, lobha, matsarya, and mada. These are desire, anger, delusion, greed, envy and sloth. When yoga practice is sustained with great diligence and dedication over a long period of time, the heat generated from it burns away these poisons, and the light of our inner nature shines forth." (taken from www.kpjayi.org). Some people cry, some got really upset, there are those who pass all that they feel to the teacher, all the six poisons tend to come to the top, desire, anger, delusion, greed, envy and sloth. It is not easy to experience these aspects, it is easier to keep all well repressed within ourselves, instead of with patience, humility and practice, accepting where we are,  to open the heart, surrender and trust the teacher. If we do this, something very beautiful happens, the 6 poisons will leave our body and mind, and before we know, we are  receiving the next position or set of positions. It is a very special process, internal, single, real connection and integration to our essence, but also real connection with our teachers.
The Ashtanga Yoga should be practiced with a teacher, the teacher daily accompanies our practice notes, corrects, adjusts, supports and when we are ready, even when we think we are ready for months, sometimes for years, he teaches us the next positions. There is a time for teaching the postures, the teacher "stops" in a certain posture, not for punishing us. On the contrary, we are there,  to feel, to work, to overcome. It is common that after some time, even if we are still struggling in that certain posture, the teacher teaches the next, because there was a work between student and teacher, there was internal observation by the student and external by the teacher. This is not invented by me, it is what is happening here in Mysore, is what Sharath teaches us. The postures are taught with a function, are not given by chance, it is up to each of us, to work on our Yoga, without lies, without illusions, without detours, especially without to ourselves.

There was a particular posture that forced me to stay "stopped" for four years, i  came here to Mysore and was two months without my teacher told me anything except, "YOU CAN DO IT VERA". I cried so many times in that pose within the Shala, at my  rest, or  home. It was a position that scared me, which gave me anxiety, which forced me to touch in all my frustrations. And he would only adjust me from time to time, whenever he did, it was so easy to make the posture, he would softly tell me, "YOU SEE, VERY POSSIBLE!", and I thought "Yes, it is possible when you adjust me!". And there i was, in another study season stuck in the same position, i did not understand why he left me there, he saw myself suffering and did nothing except sit in his chair and watch me while I repeat, one, two, three, sometimes four times the posture. It  just adjust me from time to time. Until there was a year that I started doing the posture and he gave me the next positions. It is a position that I have returned to lose, it was because I was lazy,  i was tired of teaching and when I went to my mat, instead of focusing on making the whole posture, i was making less, until i lost it. I again had to come to Mysore and rebuild the position, he once again adjust me and told me "YOU CAN DO IT." I no longer feel fear, frustration, or crying, rebuild the position gave me the lesson that whether i am here,   or back home, more or less tired, we should keep the dedication.  i hated that posture and i m now  loving it, it's beautiful, I love to notice that from one class to the other, practice to practice the body is releasing, even when in pain, or more saturated, clearly there is an improvement by the constant repetition. The emotions that once came up,  today are different, the breath before that ran into me, as if i was in  full-speed racing, today is a quiet breath.
The postures are taught with time, there are rules in the teaching of Ashtanga Yoga, there are key positions in the sequences where we stay longer, sometimes years, 4, 5, 7, 10 years in the same position, and instead of staying angry with the teacher, frustrated with the method, boring with ourselves,  we should have an attitude of relaxation, surrender,  and practice with dedication and hope that the body release, this practice is for life, when we have 20, 30, 40, 50, 60, 70years ... Now lying, lying is not worth it! Lying to the teacher, but worse than that, lying to ourselves?! It is all the opposite of what is Yoga.  On the first conference of March, Sharath said that our problem, was because we compare ourselves with the others, oh that person is making until that pose, and the other is making that... There must be humility, perseverance, dedication and above all, respect!
If you are "stuck" in some posture, calm down, breathe, try to feel the adjustments that your teachers do, try to make the same setting when you are practicing alone, and slowly, believe me, the body gives in and we can get into the position to remain with a steady breath and stay focused and the "ONE MORE" just happens. But do not fall prey to the egocentric temptation to lie where you are, especially if you will practice with another teacher, be true of what is your last position, if is still the middle of the first series, if you at the end of the first series and working your Dropbacks. If it is the beginning of the 2nd series, if you are still far from the middle of the Intermediate Series, but be true to yourself, and show respect for your teachers, assuming the tradition left by Guruji and continued by Sharath and wait, even for years,the next position will come.

sexta-feira, 18 de março de 2016

A LITTLE OF OUR HISTORY - beginning of the Ashtanga Cascais

Houveram  alguns amigos, que conheço há anos, que vieram perguntar-me, com cara de surpresos, se existiu um terceiro elemento para além de mim e do Manuel Ferreira, a quando do começo do Ashtanga Cascais. Fiquei igualmente com cara de surpresa pela história que tinham ouvido, então decidi que talvez fosse melhor redigir o começo da história do Ashtanga Cascais, para que não haja possibilidade de  confusões.

Eu e o Manuel Ferreira ensinámos Yoga por alguns anos em  ginásios e Health Clubs enquanto  estudávamos com o Tarik Van Prehn em Lisboa. De inicio não leccionámos Ashtanga, mas sim o método de Yoga do nosso querido professor Carlos Rui, do Centro Português de Yoga.  Em 2007, depois de estudarmos com o Tarik diariamente desde 2003, e depois de uma viagem a Mysore, a minha primeira e a segunda do Manuel, decidimos que estávamos cansados de leccionar Yoga em ambiente de ginásio, que gostaríamos de ter o nosso Shala, onde pudéssemos aprofundar o ensino do Ashtanga Yoga segundo o que aprendemos com o Tarik e posteriormente aqui, em Mysore,  com Sharath Jois.  Por respeito e gratidão à Isa, e especialmente ao Tarik, não fazia nenhum sentido abrirmos um espaço em Lisboa. Embora a nossa capital seja grande,  o Manuel lembrou-se de Cascais, confesso que na altura, achei uma opção arriscada, porque ensinávamos há anos na zona de Carnaxide, Algés e Restelo, já tínhamos alunos dedicados, já em Cascais o Manuel apenas tinha ensinado umas aulas privadas, uma vez por semana, a um pequeno grupo de pessoas na zona do Estoril. A primeira casa que visitámos em Cascais, passou a ser a primeira casa do Ashtanga Cascais, e começámos o Shala com zero alunos. Levaram muitos anos, muita dedicação, sacrifício e muita vontade para superar todas as dificuldades que surgiram, foram e são precisas, doses e doses de "Bhavana" e fé para estarmos hoje, em 2016,  com um grupo de pessoas tão especiais, a quem posso chamar de alunos.

Obrigada ao Manuel Ferreira, por ter sido co-fundador e amigo com quem pude começar o sonho do Ashtanga Cascais, e obrigada a todas as pessoas que fazem parte desta casa de prática.


EN
There were some friends here,  that i have known for years, who came to ask me, with surprised face, if there was a third element in addition to me and Manuel Ferreira, when the start of Ashtanga Cascais. I was also with a surprised face, listening to the story they had heard, so I decided it might be better write the  history of the beginning of the Ashtanga Cascais, so there is no possibility of confusion.

Me and Manuel Ferreira have taught Yoga for a few years in gyms and health clubs while we studied with Tarik van Prehn in Lisbon. Initially we didn't teach Ashtanga, but the Yoga method of our beloved teacher Carlos Rui, from the Portuguese Centre of Yoga. In 2007, after studying with Tarik daily since 2003, and after a trip to Mysore, my first and second for Manuel, we decided that we were tired of teaching yoga in gym environment, we would like to have our Shala, where we could deepen the teaching of Ashtanga Yoga according to what we learned from the Tarik, and later, here in Mysore, with Sharath Jois. From respect and gratitude to Isa, and especially to Tarik, it made no sense we open a space in Lisbon. Although our capital is big, Manuel remembered Cascais, I confess that at the time, I thought this a risky choice because we taught for years in Carnaxide, Algés and Restelo area, we already had dedicated students, and in  Cascais,  Manuel had just taught once a week,  a private lesson,  to a small group of people in the Estoril area. The first house that we visited in Cascais became the first home of Ashtanga Cascais, and we started the Shala with zero students. It took many years, a lot of dedication, sacrifice and will to overcome all the difficulties that appear, were and are need, packages and packages of "Bhavana" and faith for being today,  in 2016, with a special group of people, who i can call students. Thanks to Manuel Ferreira for being co-founder and friend with whom I could start the dream of Ashtanga Cascais, and thank you to all the people who are part of this home of practice. 

quarta-feira, 16 de março de 2016

MORNING RITUALS


Nestas últimas duas semanas andei a vivenciar verdadeiros pesadelos de práticas! Sim, desculpem os puristas, e aqueles que não gostam que falemos de boas ou más práticas, sabemos que ambos os opostos são a mesma moeda, mas se já passaram por estas malditas, benditas, exigentes práticas, sabem bem que às vezes parecem pesadelos. Ora bem, quando fui chamada a entrar no grupo das 4h da manhã, levava já um mês de práticas no turno das 10h e parece que entrei numa outra dimensão, numa outra realidade, onde fui posta à prova fisicamente, mentalmente e emocionalmente. O meu corpo estava perdido, não queria de maneira nenhuma esticar, torcer ou dobrar, a minha mente pedia-me para a deixar em paz, qual concentração qual quê! Venha a distração, os pensamentos e emoções. Até a minha amiga respiração decidiu não existir, a sensação que tinha é que não consegui respirar. Tudo era um esforço! Tudo era intenso! Tudo era demais,  e dia atrás de dia numa semana longa de prática,  quando pensamos, "pronto ontem foi mau, ok, faz parte, paciência, é mesmo assim, é o corpo a habituar-se, é outra hora do dia, é uma adaptação", blá, blá e muitas  mais afirmações que possamos dizer para nós mesmos para dar-nos força a irmos ao Shala no dia seguinte, pensando que será melhor, para quando mal começamos a praticar, sentimos, bem internamente que estamos prestes a vivenciar exactamente a experiência difícil do dia anterior, e lá volta a sensação de não conseguir respirar e lá volta a recusa do corpo de dobrar, e lá volta a mente a ir passear e a ficar com cada pensamento que nos passa na cabecinha, e lá vêm as emoções, oh emoções, medo, raiva, angústia, pena, etc todo um drama vivenciado apenas na nossa cabeça, que se alguém escutasse estaria durante hora e meia a rir, a chorar de rir! Valeu-me o apoio dos assistentes de Sharath, alguns são amigos de há anos, como tu, Lúcia, que quando vinhas ajustar-me, eu dizia baixinho, "não consigo amiga! Não consigo respirar!" e tu respondias, "Estás linda amiga! A fazer tudo certinho!", no teu sotaque dançante do Brasil" e eu pensava, "Linda?! Oh Linda! Nem respirar consigo, quanto mais fazer todas estas posturas!" Mas fiz, não sei como, ou na altura não sabia como, engoli a dificuldade e dei o meu melhor, mesmo que o meu melhor fosse com muitas paragens entre as posturas, fazia uma, saltava atrás, vinha à frente para entrar na próxima, parava,  de joelhos no chão a tentarfocar-me na respiração e só depois continuava.

Face à  intensidade  da prática de Ashtanga,  somos obrigados a criar uma rotina antes da prática. Estas rotinas variam de praticante para praticante, no entanto há também aqueles que não têm qualquer hábito antes da prática à parte da sua higiene diária.  Mas para a maioria dos mortais, como eu, a conversa é outra, há que acordar 2horas antes da prática, para alguns bastará 1h antes, e encontrar uma forma de despertar o corpo e foco na mente. Muitos fazem pequenos alongamentos, Sharath fala várias vezes nas conferências, para não os fazermos, que não faz sentido, que a prática não é um espectáculo onde precisamos de fazer aquecimentos para posteriormente subirmos ao tapete como se fosse um palco,  e as práticas como se fossem performances sujeitas a votações e a prémios. Que não existem más práticas! É verdade meu querido professor, mas olhe que existem as práticas pesadelos! Muitos fazem as tais três ou quatro posições para alongar, para acordar, para respirar. Há outros que optam por ler, tomar um chá, já os amantes do café, bebem o seu café, há os que despertam mais cedo para antes da prática meditarem, e os que gostam de escrever, etc. Até há os que gostam de comer antes da aula, por mais que seja uma indicação para a prática, o de não comer 1 a 3 horas antes desta, mas para alguns comer meio bolo de banana chocolate, aqui da Chocolate Shop, é tido como o segredo para uma prática forte e focada! Outros é beber uma agua de coco para estar bem hidratado, as receitas são muitas, têm a ver com o que acreditamos. Acima de tudo os  rituais são delineados pela experiência e observação do que funciona connosco. E o que funciona com uma  pessoa, pode não resultar ou ter o efeito contrário com outra. Os rituais antes da prática, aquelas pequenas coisas que repetimos dia atrás de dia, antes de subirmos ao tapete, podem ser os mesmos durante anos, como podem ser alterados, face à exigência da prática, a própria prática pode mostrar-nos que o que funcionava antes, é hoje obsoleto  e lá andamos nós, por erro e tentativa e acima de tudo observação interna, a tentar entender o que temos de modificar.

Depois de duas semanas a tentar fazer pequenas mudanças para verificar se havia melhorias na prática, se o corpo conseguia estar mais acordado, se a mente dava a volta à distração e retomava o caminho da concentração, parece que achei minha forma secreta, não sei se vai durar muito tempo, mas finalmente as práticas pesadelos passaram e tenho novamente estado mais tranquila, a desfrutar do visível trabalho dentro da prática que tenho feito nestes quase quase 2 meses. Sinto, e acho que todos os outros que estão aqui, ou estão aí, ou noutro qualquer canto do Mundo e que vão regularmente aos Shalas para praticarem com os vossos professores, e todos aqueles que preferem praticar em casa, sentimo-nos gratos por termos o Ashtanga, mesmo quando vivemos pesadelos e dificuldades.

Bons Rituais.
Boas Práticas!

EN
In these last two weeks I've been experiencing nightmares practices! Yes, sorry for the purists, and those who do not like to speak of good or bad practice, we know that both opposites are the same coin, but if you have gone through these cursed, blessed, demanding practices, you know well that sometimes they  seem nightmares. Well, when I was called to join the 4am group, after already a month of practice in the shift of 10am, it seems that I entered a different dimension, a different reality, where I was physically, mentally and emotionally tested. My body was lost, did not want in any way to stretch, twist or bend, my mind asked me to leave her alone,  concentration? What was that? Welcome  distraction, thoughts and emotions. Even my friend, my breath, decided not exist, i had the feeling I could not breathe. Everything was an effort! Everything was intense! Everything was too much, and day after day in a long week, after we think, "ok, yesterday was bad, okay, is the process, be patient, keep calm, it is the body to get used to, is another time of day,  is an adaptation," and blah, blah and many more statements that we can say to ourselves to give us strength to go to Shala the next day thinking it will be better, for when we are about to started the practice, we internally feel we  will have again the same experience, the difficult experience of the previous day, and there comes again the feeling of not being able to breathe and there comes again the body refusing to bend, and there comes again  the mind to go sightseeing, and follow every thought that pass  in your  little head, and there comes again the emotions, oh emotions, fear, anger, grief, shame, etc, everything just happening inside your head, that id someone could listen, he would had a hour and a half of laughing, crying with laughter!  I was lucky to have the support of Sharath assistants, some are friends for years, like you, Lucia, when you were coming to help,  I said softly, "I can not  do this friend! I can not breathe!" and you replied  in your dancing accent from Brazil,  "You look beautiful friend!You are doing everything right!", and I thought," Beautiful?! Oh Beautiful! I can´t even breathe, as much do all these postures!". But i did, i don't know how, or at the time i did not know how,  i swallow the difficulty and give my best, even if my best was with many stops between the postures, made one pose, jump back, went forward to enter the next pose, and stop, with my knees on the floor, trying to focus on the breath, and later continued.

Given the intensity of the Ashtanga practice, we create a routine before practice. These routines vary from practitioner to practitioner, but there are also those who have no habit before practice  a part of their daily hygiene. But for most mortals, like me, the conversation is another, there we have to wake up 2 hours before practice, for some is sufficient 1h before, and find a way to awaken the body and focus the mind. Many make small stretches, Sharath speaks several times in conferences, not to do them, it makes no sense,  that the practice is not a show where we need to do warm-ups to later step in to the mat as if it was a stage, and the practices  performances which were subject to voting and awards. That there are no bad practice! And it is true my dear teacher, but sometimes we feel like we have nightmares practices! Many do that three or four positions to stretch, to wake up, to breathe. There are others who choose to read, have a tea, for the coffee lovers, drink their coffee, some wake up early to meditate before practice, and others like to write, etc. There are even those who like to eat before class, though there is the indication to practice, of not eat 1-3 hours before, but for some eat half chocolate banana cake, from the Chocolate Shop, is considered the secret to a strong and focused practice! Others is to drink a coconut water to be well hydrated, the recipes are many, and they depend in what you believe. Above all, the rituals are designed by experience and observation of what works with us. And what works for one person may not work or have the opposite effect with another. The rituals before practice, those little things that we repeat day after day, before we go up to the mat, may be the same for years, as can be changed, due to the demands of the practice, the practice itself can show us what worked before, it is now obsolete and by mistake and try and above all, from internal observation,  we try again to understand what we have to change.

After two weeks trying to make small changes to see if there was  improvements in the practice, if the body was more awake, the mind overpassed the distraction and came back to the path of concentration, it looks like I found my secret ritual, do not know if It will last a long time, but finally the nightmares practices passed and i have again been more quiet, enjoying the visible work  I have done these almost almost two months in the practice.  I feel, and I think all the others who are here, or are there or in another corner of the world and who regularly go to a shalas to practice with your teachers, and all those who prefer to practice at home, we are grateful to have Ashtanga, even when we live nightmares practice and difficulties.

Happy Rituals.
Happy practicing!

quarta-feira, 2 de março de 2016

10am...7am...4am?!

Eu comecei esta temporada de estudo no turno das 10h da manhã, e confesso que quando recebi o cartão da escola pelas mãos da Usha, fiquei ao olhar para o cartão e depois para ela, nem falei e ela disse-me, "Vera precisas de descansar. Assim dormes!". Enquanto subia a rua aqui para casa pensava, devo estar mesmo com uma cara de cansaço, para ela ter falado aquilo. E estava! Soube-me bem as primeiras semanas ir mais tarde para o Shala, mas ao mesmo tempo praticar aqui às 10h é quase como praticar aí às 15h, parece-nos imensamente tarde! Mas como em tudo neste país, ou talvez qualquer viagem deste género, há que entregar, relaxar no que o Universo nos traz e aproveitar! E lá andei a praticar no último turno,  com imensa oportunidade de observar o trabalho de Sharath, dos assistentes, as práticas de quem já estava na sala, de reflectir, de sentir, enfim, deu tempo para tudo! Houve dias que parecia que já tinha passado um dia inteiro até eu ir para o Shala, havia tempo para ler,  estudar, escrever-vos, reparar nas idas e voltas à escola das minhas vizinhas, etc. E às 9h lá saí de casa num passo lento, de quem está a ir demasiado cedo para o Shala, dava para chegar, para estar cá fora com os do grupo das 9h e 9.30h onde estava a nossa Laura, e de repente lá era a minha vez de ir colocar o tapete e finalmente fazer a abençoada prática, que tanto me ajuda a olhar para dentro de mim e tentar, no melhor que eu posso, desenvolver maior capacidade de compaixão por mim mesma e pelos outros. Esta prática faz-nos ganhar amor por nós mesmos, faz-nos aceitar-nos, permite-nos aos poucos deixarmos que aquela vozinha que tende a estar em constante auto-critica deixe de ser o som mais importante, e a ganharmos capacidade de reduzir o seu volume dentro da nossa mente, para passarmos a aproveitar o que estamos a viver em cada instante. Mas lá estou eu a perder-me nas palavras, estava a contar-vos que comecei no turno das 10h e antes do mês terminar passaram para o das 7h e depois de apenas praticar 2 dias neste grupo, e permitam-me confessar mais uma vez -  é dos meus turnos preferidos, nem demasiado cedo, nem demasiado tarde, é a perfeição, se é que ela existe! Mas na  minha segunda prática das 7h, num lugar mesmo ao pé da porta, que não é de todo perfeição, se é que ela existe! Ficamos a praticar a poucos centímetros de todos os alunos que esperam para entrar, e é natural ter a sensação que estão todos parados a olhar para nós! Mais uma vez há que entregar, relaxar,  focar e aproveitar a prática. No final da prática, aparece Sharath ao meu lado e diz, "Vera amanhã vens às 4h!". Eu tive a reacção de lhe agarrar o tornozelo! Estava deitada, ia começar as pontes, e olhei para ele cá de baixo, com certeza que tinha o maior ar de "POR FAVOR, NÃOOOOO!" e ele só acenou com a cabeça um " SIM VENS, VENS ÀS 4 DA MANHÃ!".
Ora bem, começar a época a praticar às 10h, num registo de descanso, de dormir mais, de puder jantar com o Messenger ligado enquanto falamos com a família, para passar para grupo das 7h, vivermos o turno que mais gostamos para rapidamente irmos calhar no que sempre considerámos o pior grupo de todos, o primeiro! Quem está no das 4h e reparem, não é 4.30, são 4h da manhã no Shala! Significa acordar pelo menos às 3h, se não 2h da manhã! Para haver tempo de realmente acordar, acordar o corpinho que ainda está confuso a perguntar, "Mas que raio é que estás a fazer de pé?", e para ter tempo de lhe pedirmos com muito jeitinho, "Olha corpinho e mente, vamos praticar daqui a pouco, ok?" e cá dentro o nosso maravilhoso e único veiculo da alma, responde, "HMMMM vou pensar nisso!".
Boas práticas!

EN
I started this season of study in the slot of 10am! I confess that when I got my school card from Usha hands, I looked at the card and then to her, i didn´t say nothing and she told me, "Vera you need to rest. So you can sleep longer." When  i was walking up the street to my home, i  thought, I must be with a face of exhaustion, for her to have spoken that. And i was! It felt good the first few weeks practicing later in the Shala, but at the same time practice here at 10am is almost like practicing back home at 3pm, it seems immensely late! But as with everything in this country, or perhaps any trip of this kind, we must surrender, relax in  what the universe brings us and enjoy! And there i was,  practicing in last shift, with great opportunity to observe the work of Sharath, the assistants, the practices of those already in the room, to think, to feel, it gave time for everything! There were days it seemed that had already passed a whole day until I go to the Shala,  i had time to read, study, write to you, notice the back and forth to the school of my neighbors, etc. And at 9am i would leave home in a slow pace, the pace of someone that is  going too early to the Shala, i had time to be with the group of 9am and 9.30am which was the one of our Laura, and suddenly there was my turn to enter, put the mat and finally make the blessed practice that so helps me to look inside myself and try the best I can, develop greater capacity of compassion for myself and others. This practice makes us make love ourselves, makes us accept us, allowing us to gradually let that little voice that tends to be constantly self-critical, become not the most important sound, and gain ability to reduce its volume within our mind, and enjoying what we are living in each moment. But there I am losing myself in words, i was telling you that I started in the slot of 10 am and before the month was over i  passed to 7am shift,  and after only practice two days in this group, and let me confess again - it is my preferred shift, neither too early, nor too late, is perfection, if it exists! But in my second practice at 7am in a place right next to the door, which is not at all perfect, if it exists! Where we are practicing a few centimeters from  all students that are waiting to enter, and it's natural to feel that they are there looking at us! Once again you have to surrender, relax, focus and enjoy the practice. At the end of practice, Sharath appears to me, and said "Vera tomorrow come at 4am!" I had the reaction of grabbing his ankle! I was lying, I was about to start the bridge pose, and i looked at him from below, pretty sure  i had the face of saying, "PLEASE Nooooo!" and he just nodded his head, like if he was saying, "YES, YES YOU COME AT 4am!"

Well, starting to practice at 10am, in a resting mode, sleeping more,  being able to have dinner with the  Messenger ON and speaking with family,  to move to the 7am slot and living the shift we  most like, to quickly go to what we have always believed the worst slot of all, the first one! Who start at 4am and repair, it is not 4:30, it is 4 am in Shala! Which means waking up at least at 3 if not 2 am! To have time to really wake up, wake this body which will be still confused and ask, "What the hell are you doing up?", And to have time to ask it, "Look body and mind, let's practice in a moment OK?" and our wonderful and unique vehicle of the soul, says, "HMMMM'll think about it!"
Happy practicing!


terça-feira, 1 de março de 2016

OUR DEAR TEACHER


Mais um vez esperava na entrada, desta vez no turno das 7h, de quando em quando ouvia-se um " ONE MORE" de Sharath, dando indicação para um de nós entrar. Estamos no segundo mês, para alguns o terceiro mês de estudo no KPJAYI, as práticas da grande maioria dos alunos está mais comprida e levam mais tempo, e o tempo de espera na salinha de entrada acaba por ser maior. Lá dentro o ambiente é de foco, alguns aparentam visível cansaço, outros voam pelos vinyasas com uma beleza inspiradora, há os que se mostram presos em determinadas zonas do corpo, e outros percorrem as séries de posturas livres de qualquer restrição física. Aos olhos de quem está cá fora à espera, e que observa a beleza de uma aula tradicional de MYSORE STYLE, consegue reparar no invariável mundo de expressões, de ambientes, de energia que se modifica de praticante para praticante. Eis a grande maravilha do Yoga, eis a grande maravilha do Ashtanga, cada prática é uma prática singular e única. Mas voltando ao começo da história, estava eu e muitos mais à espera da nossa vez para entrarmos, até que  Sharath chega à porta, olha para os nossos rostos e aponta para uma das raparigas, "Porque é que tu não vieste ontem à aula?" Ela de rosto vermelho como um tomate, encolhe os ombros, quase que não levanta a cabeça, enquanto todos olhamos para ela, incluindo o professor,  e lá responde timidamente, "Ontem não estava a sentir-me bem!".  Ele ri-se e diz-lhe, "Devias ter vindo à aula! Eu estou cá todos os dias! Quando não estou bem, quando tenho febre, quando estou cansado. Eu estou aqui todos os dias!" Todos nos rimos, ele falou aquilo com alegria nos seus olhos e com humor. A rapariga sorriu timidamente, encolheu-se ainda mais sobre ela mesma, e Sharath lá foi ajustar mais um aluno.

Ele está sempre ali. Raras são as excepções que o impedem de estar presente no Shala, mostra uma consistência e dedicação a cada aluno através da sua presença 6 dias por semana, numa temporada de aulas que se estende na sua maioria,  de começo Outubro a final de Março.  Há anos que ensina  durante o verão, noutros anos faz os seus tours pelos USA, Europa ou Asia. E mesmo nos seus tours ele está presente para todos os praticantes que pretendem praticar sob o seu olhar. Todos os professores que seguem a tradição deixada por Shri K. Pattabhi Jois e continuada por Sharath Jois, criam um programa de aulas segundo o seu exemplo,  estamos ali 6 dias por semana, numa semana longa de ensino, dia sim, dia sim, para ajudarmos todos os nossos alunos a fortalecer e aprofundar o seu Sadhana - a sua prática. Nos dias que estiverem cansados, que se sentirem preguiçosos,  lembrem-se de Sharath, e agarrem nos vossos tapetes e vão ao Shala.
Neste momento a Michelle está à vossa espera! Aproveitem!
Boas práticas!


EN
Once again, while I wait in the entrance hall, this time in the slot of 7am, from time to time we would hear a "ONE MORE" of Sharath, giving indication for one of us to enter. We are in the second month, for some of us is already the third month of study in KPJAYI, the practices of the majority of students are longer and take longer time, and the waiting time at the entrance room turns out to be longer too. The environment inside the Shala show focus, some appear visible fatigue, others fly by vinyasas with an inspiring beauty, there are those who show blockages in certain areas of the body, others flow through the series of poses with no indications of physical restrictions. In the eyes of those who are outside waiting, and observing the beauty of a traditional MYSORE STYLE class,  can repair the  invariable world of  expressions, environments, energy that changes from practitioner to practitioner. This is the great thing of Yoga, is the great thing of Ashtanga, every practice is a individual and unique practice. But going back to the beginning of the story, I  and many more were waiting for our turn to enter until Sharath comes to the door, look at our faces and points to one of the girls, "Why did you not come yesterday to class?" Her face turned  red as a tomato, shrugs, almost does not raise her head, while all of us were looking at her, including the teacher, sheepishly she replied, "Yesterday I was not feeling good!" He laughs and tells her, "You should have come to class! I'm here every day! When I'm not well, when I have a fever, when I'm tired. I'm here every day.". We all laughed, he said these words with joy in his eyes and with good humour. The girl shyly smiled, cringed even more about herself, and Sharath left to adjust another student.

He is always there. Rare are the exceptions that prevent him from being present in Shala, shows a consistency and dedication to each student through his presence 6 days a week, a season of classes that extends mostly, from beginning October to end of March. There years he also teaches during the summer, and in other years makes his tours by the USA, Europe or Asia. And even in his tours, he is present for all practitioners who wish to practice under his directions.
All teachers who follow the tradition left by K. Pattabhi Jois and continued by Sharath Jois, create a school program according to their examples, we are there six days a week, a long week of teaching, day yes, day yes to help all our students to strengthen and deepen their Sadhana - your practice. In the days that you are tired,  feel lazy, remember yourself of Sharath and grab mats and go to Shala.
Michelle is currently waiting for you! Enjoy!
Happy practicing!