Quantas vezes fomos vencidos pela falta de paciência e confiança, pelo descrédito ou até pela arrogância? Quantas vezes questionámos esta prática, porque de um momento para outro sentimos dores? Ou cansaço, ou falta de entusiasmo? Quantas vezes apeteceu-nos mudar de professor, de método de Yoga, ou até alterar a nossa rotina diária por uma outra actividade, uma que não obrigue a vermos e a sentirmos tanto?
Quando praticamos Ashtanga há pouco mais de um, dois ou três anos, e desde o início que reconhecemos limitações no nosso corpo e mente, que temos noção de algumas dores e bloqueios físicos e emocionais, que somos obrigados a usar variantes nas posturas, e no entanto sentimos um transbordante entusiasmo de quem está no começo do processo de estabelecer uma prática diária, de descoberta das posturas, de viver a ideia pré-concebida de evolução. A vivência de um deslumbramento, onde tudo parece fluir, onde tudo está mais certo, mais fácil, onde somos mais vivos e mais felizes.
Com a continuidade das práticas, dos meses e dos anos de mantermos esta rotina de 6x por semana, tropeçamos em nós mesmos e nas nossas considerações e projecções sobre perfeição, dor e estagnação. De repente o entusiasmo perdeu-se e sentimo-nos frustrados, porque estamos retidos nas mesmas posturas, temos dores, ficámos fechados dentro do nosso corpo e encarcerados na nossa mente. E é nesta altura que muitos de nós desistem, mandam os "mats" para um canto do armário e substituem a prática por uma outra actividade, uma que seja mais fácil, mais simples, menos intensa e especialmente, uma que não obrigue a lidarmos com os nossos medos, frustrações e ansiedades.
Este período de ausência servirá para muitos de nós nunca mais voltarem e pelo contrário, alguns encontram nesta privação, o verdadeiro sentido do Yoga. Cabisbaixos e envergonhados, batem à porta da escola, onde são recebidos pelo sorriso do professor, que como praticante sabe o que sentimos e o que nos assustou.
O regresso não é fácil, o corpo esqueceu como dobrar, como torcer, como esticar. As dores que outrora sentíamos, as mesmas que chamávamos de entraves à prática, continuam nos nossos corpos e nas nossas mentes e levará tempo até compreendermos o que Paul Gold afirma em todo o seu artigo, especialmente no último parágrafo, "So what’s the antidote to despair? The simplest answer is to keep in mind that more asanas is not the measure of success in yoga practice."
Munidos de paciência, humildade e coragem aceitamos as nossas limitações e largamos os pressupostos de perfeição, de certo e errado, de evolução e estagnação e com inteligência e fé, superamos as dificuldades, percebendo que "Roma e Pavia não se fizeram num dia" e que o processo de Yoga não são as posturas que temos, mas o processo de nos encontrarmos.
Olhamos para trás, para o nosso passado, para os capítulos da história da nossa prática, sorrimos. Porque é nítido que o dia que retirámos o "mat" do armário e aceitámos as dificuldades, foi o dia em que começamos a praticar Yoga.
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