terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Como mudar (II)

Quantas vezes nos vemos presos pela repetição de determinado comportamento, ou por sentirmos determinada sensação, emoção ou sentimento? Quantas vezes repetimos para nós mesmos, que vamos mudar, que vamos passar a agir de outra maneira, ou de sentir e pensar de outra forma? Mas sem percebermos, continuamos a repetir estes padrões, tornando-os cada vez mais fortes e profundos.


O Yoga deve ser observando como um reflexo de nós mesmos, um instrumento que nos leva a compreender como somos, um conjunto de técnicas práticas que exploram o nosso potencial como Ser Humano, que orientam o praticante para uma maior consciência de si mesmo. E pela veracidade de nos vermos, temos uma nova capacidade de alterar ou superar todos os condicionamentos que nos bloqueiam de uma vida mais feliz e mais saudável.
Em teoria tudo parece fácil, mas na prática, é um verdadeiro desafio. Superar as condicionantes da nossa mente, abrir as portas da nossa alma, é algo extremamente árduo e por isso muitas das vertentes do Yoga, começam pelo corpo, como no Ashtanga Yoga, ou outra forma de Hatha Yoga.


A mente está constantemente a produzir pensamentos, num segundo a nossa cabeça consegue levar-nos para diversos rumos e se nos identificamos com cada um destes, estamos constantemente ora no passado, ora no futuro. A prática de asana e respiração, mostra-nos o poder do presente, do estar no presente, o estar no momento, ou seja o estar em paz, estar no silêncio, sem a agitação frenética dos pensamentos, das emoções. À medida que a prática de Yoga se torna mais e mais regular, o praticante adquire mais e mais serenidade. 
A respiração (especialmente no Ashtanga Yoga) coordena o movimento e serve de medida para nos auto-observarmos, se repararem que estão a respirar que forma rápida, curta, sem ritmo, o mais provável é que não estejam focados nesta, desliguem-se da mente, retornem a atenção na quantidade de ar que entra pelas narinas e na quantidade de ar que saí, voltem a centrar-se, a sentirem o momento e verão que reencontram um estado de paz. 


Todos temos a hipótese de prestarmos atenção à nossa vida, de prestarmos atenção aquelas situações que repetidamente surgem e que nos fazem sentir mal, experiências que nos deixam sem paz e que conduz-nos a um estado de agitação, um estado negativo. Pela consciência destas situações, experiências, comportamentos, sentimentos, pensamentos, temos a oportunidade de parar o rol contínuo de acção e reacção, observando como reagimos e verificarmos que somos capazes de mudar. Se o padrão está demasiado enraizado, o mais provável é levarmos algum tempo até conseguirmos alterar este samskara. Mas se nos esforçarmos, como nos esforçamos numa primeira fase para esticarmos mais as pernas, alinharmos os braços, ou rodarmos um pouco mais a cabeça nas diversas posturas que temos nas sequências do Ashtanga, vamos aos poucos, lentamente, deixar o sacrifício e de uma forma orgânica, conseguirmos alterar os nossos condicionamentos.  Ou seja, como acontece no processo do nosso Yoga, à medida que somos mais regulares, vamos passando de um esforço físico acentuado para uma prática Sthira e Sukha das posturas, ou seja, conforto e facilidade. 


A observação e a consciência dos samskaras negativos, a correspondente pausa entre estes, e o tempo de reacção, permitem focarmos a mente e optarmos por agir, sentir ou pensar de forma diferente, substituindo antigos samskaras por novos. Sankalpa significa intenção, e utilizado de forma consciente, é um excelente canal de comunicação entre o que pretendemos alcançar e o que nos bloqueia, entre o nosso corpo físico e o nosso corpo mental e emocional. 


O Yoga vê o Ser Humano como um conjunto de corpos, camadas, ou níveis - em sânscrito chamam-se de koshas -  e o Sankalpa, quando usado de forma consciente, é um instrumento eficaz para comunicarmos entre as  camadas que vão desde o nosso corpo à nossa alma.

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