Recebi a notícia ontem depois das aulas, fiquei com o olhar que acho que uma maioria de gente ficaria quando escuta do outro lado do tlm, que a Tia tal morreu. Pior, que a Tia tal, que não víamos há anos e que foi tão importante para nós e para a nossa família em determinada altura, que tinha morrido, sem que a tivesse ido visitar.
Achei que não estava tão mal, achei que havia tempo. Achei que no dia que fosse, que se iria rir, porque olharia para o meu rosto e para a mulher que sou hoje e se recordaria da criança de 4, 5, 6 anos que corri pelos corredores da sua casa, que a chamava de Tia, mesmo que fosse uma tia emprestada. Quando recebi a notícia, fiquei ali sentada dentro do carro, em frente ao portão da escola, a lembrar-me do seu rosto, da luz que imanava, de levar os seus três filhos, eu e o meu irmão no seu Fiat Uno azul para a praia do Castelo. De irmos para ali todos ao "molhe", não havia cadeira para as crianças, não havia regras dos cintos de segurança, eram outros tempos, eu era a mais pequenina de eles todos e lembro-me como tudo aquilo me fazia feliz, ria-me muito, alegria de criança pequena, em dias de pleno Verão e praia.
Andei pelo dia de ontem com a Tia emprestada na cabeça, meia com a sensação estúpida de me sentir mal por não a ter ido visitar, por nem sequer saber que a doença que tinha era Leucemia e que há um ano que frequentava o IPO, de não ter perdido uma tarde para ir vê-la, porque na inocência de quem nunca esteve doente e de quem nunca teve pessoas amigas, familiares chegados doentes, não prevê ou não quer prever que a doença existe e que a morte chega sem datas pré-estabelecidas.
Ensinei a turma da tarde e arrumei tudo para ir despedir-me da Tia emprestada, agora já sem hipótese de se ir rir quando observar a mulher que sou hoje. Quando lá cheguei estavam os meus pais também, procurei os filhos da Tia, encontrei a primeira e apresentei-me, disse - Sou a Vera. Ela ficou a olhar para mim, com o rosto de quem não faz a mínima ideia de quem sou, olhos de choro, misturados com serenidade, eu disse, a Filha da Laura, ela sorriu no momento seguinte e respondeu, como eu esperava que seria a resposta da sua mãe, "estás uma mulher, já não és a menina pequenina!" A resposta dos outros irmãos foi igual e do Tio emprestado também, que me abraçou e andou comigo pelo velório como se eu ainda tivesse 5 anos. Foi comovente reencontrar aquelas pessoas, mas acima de tudo de despedir-me da Tia emprestada que me recebi em sua casa depois da escola, que me mimava, que me levava para a praia no seu Fiat Uno, que era uma Tia para mim e para o meu irmão, uma amiga para a minha mãe e pai.
Hoje quando subi ao meu tapete, depois da aula da manhã, estava com sono, cansada, da noite mal dormida, mas dei oportunidade a mim mesma de fazer alguns Surya Namaskar, só para sentir o meu corpo. Deixei a respiração fluir e lá fui fazendo uma primeira série. Não pratiquei sozinha, não quis, porque trouxe a minha Tia emprestada no coração e na mente, há pessoas que não vemos por anos, mas que têm intensa importância e mesmo depois da morte, as recordações e impressões que criaram na nossa vida permanecem.
Que me sirva de lição, talvez que vos sirva de lição por toda esta experiência, quando alguém estiver doente, que eu não fique na comodidade do meu dia-a-dia, à espera da altura certa para visitar e mimar essa pessoa. Porque depois pode ser tarde, já não poderei dizer uma graça, dar um abraço, contar alguma coisa que ajude um pouquinho, por um instante a diminuir a dor e o incomodo que estão a viver.
EN
I received the news yesterday after class, I got the look that I think a majority of people would have when they listen in the other side of the cell phone, that such Aunt died. Worse, that that such Aunt we have not seen for years and it was so important for us and for our family at certain particular time, who had died without we had gone to visit.
I thought she was not so bad, I thought there was time. I thought that the day i went, she who would laugh, because would look at my face and the woman I am today and remind of the child of 4, 5, 6 years running through the corridors of her house, who called her Aunt even if it was a borrowed aunt. When I received the news, I sat there in the car, in front of the school gate, to remind me of her face, the light that she has, remind when she took her three children, me and my brother in her blue Fiat Uno to the Castelo Beach. We would go in the car all mixed, there was no chair for children, there were no rules of seat belts, were different times, I was the smallest of them all and I remember how all this made me happy, i would laugh so much, the joy of a small child, living summer and beach.
I lived yesterday's day with my borrowed Aunt in the head, with the stupid sense of feel bad for not having gone to visit, for not even know that the disease she had was leukemia and that she was a year ago going to the IPO, not to have lost an afternoon to go see her, because in the innocence of those who have never been sick and who never had friendly people, close relatives sick, does not foresee or not to foresee that the disease exists and that death comes without pre-dates established.
I taught the class in the afternoon and arranged everything to go say goodbye to borrowed Aunt, now she didn t have the chance of going to laugh when she see the woman I am today. When I arrived there were my parents too, i looked for the children's aunt, found the first and introduced myself, said - I'm Vera. She stared at me, with a face that looked like who didn't have a clue who I was, crying eyes, mixed with serenity, I said, Laura daughter, right in the next moment she smiled and answered, as I hoped it would be the response of her mother, "you're a woman, you are no longer the little girl!" The response of the other brother and sister were equal and borrowed Uncle too, who hugged me and walked with me in the funeral as if I still had five years. It was touching, to rediscover those people, but above all to say goodbye me borrowed Aunt that received me at her home after school, which spoiled me, leading me to the beach in her Fiat Uno, which was an aunt to me and my brother, a friend to my mother and father.
Today when I went on my mat, after the morning class, i was sleepy, tired, from a sleepless night, but I gave myself the opportunity to make some Surya Namaskar, only to feel my body. I allow the breath flow and did my first series. I didn't Practiced alone, i didn t want to, i brought my borrowed Aunt in my heart and mind, there are people who we do not see for years, but has intense importance and even after death, memories and impressions that they created in our lives remain.
It may serve me a lesson, perhaps it may serve you a lesson throughout this experience, when people are sick, that I did not stay in the comfort of my day to day, waiting for the right time to visit and pamper this person. Because then it can be late, I can not say a fun thing, give a hug, tell something that helps a little, for a moment lessen the pain and discomfort that they are living.
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