segunda-feira, 29 de junho de 2015

ABOUT PETER SANSON 2015...


Estou há umas semanas para escrever-vos sobre o Intensivo com o Peter Sanson, desta vez decidi reflectir mais tempo antes de redigir algumas palavras sobre estes 5 dias. Foi sem dúvida uma honra voltar a estudar com este professor, recebe-lo na nossa casa de prática e com ele aprender, quer seja enquanto pratiquei, quer seja quando tive o privilégio de puder observar o que ele faz com cada praticante. Seguiu com os meus olhos o tempo todo, olhei como ajustava o praticante A, B, ou C, o que dizia, o que fazia, mas não há receitas na forma de leccionar de Sanson, ele olha para cada corpo, cada pessoa de forma diferente, porque somos realmente todos diferentes, o que um precisa, outro não necessita. Fascinou-me a maneira como com intensidade e profundidade aclamou por uma respiração estável, para estarmos realmente dentro dos nossos corpos, com a nossa cabecinha centrada no ali, naquele momento que entramos, permanecemos e saímos de cada posição. Foi incrível assistir aquela nossa sala a escorrer água pelas paredes, tamanha era a entrega de todos os que praticavam, o calor que gerámos, o respeito que tivemos pelo o que ele nos pedia, a vontade que sentimos em testar as suas indicações e penso que posso falar por todos, se não por uma grande maioria, que o resultado das experiências daqueles 5 dias a praticar segundo as suas directrizes é que vale mesmo a pena praticar o nosso Ashtanga, sem pressa, sem tensão, com o foco mental no que estamos para ali a fazer, sem ser só dobra ali e acolá, vira para um lado e para o outro, como marionetas, mas vivendo o nosso corpo por dentro, sentindo vida em cada parte de nós, respirar vida, movermo-nos com um corpo vivo, integrado e com a paz de espírito por estarmos conscientes daquele processo chamado de Ashtanga Yoga.

 Foram 5 dias onde voltei a ter o privilégio de aprender com este professor que a cada ano, mostra porque razão é tão respeitado na nossa comunidade Ashtangi, porque apresenta uma forma de praticar Ashtanga que derruba todos os mitos que tendem a estar à volta desta prática. Ali pratica-se com respeito por nós mesmos, com sinceridade, com honestidade, com veracidade. Obrigada Peter!  

********EN
I took some weeks to write to you about the Intensive with Peter Sanson, this time i decided to give more time before writing a few words about these 5 days. It was an honor to learn again with this teacher, receiving him in our home and practice with him and learn, whether as i practiced, either when I was privileged to observe what he do with each practitioner.  I Followed him with my eyes all the time, looked how he adjust the practitioner A, B, or C, what he said, what he did, but there is no prescriptions in the form of Sanson teaching, he looks at every body, every person so different, because we really are all different, what one needs, other doesn t need. It fascinated me the way with intensity and depth  he acclaimed for a steady breathing, and for us to be really in our bodies, with our little heads centered there, at that moment we enter, remain and we left each position. It was amazing watching that our room was draining water through the walls, such was the surrender of all those who practiced, the heat we generated, we had respect for what he asked us, we feel the urge to test his indications and i think I can speak for everyone, if not for a large majority, the result of the experiences of those five days to practice according to his guidelines is that is worth to practice Ashtanga, with no hurry, no tension, with the mental focus on what we are doing there, without being just bend here and there, turns to one side and the other, like puppets, but living our body inside, feeling life in each part of us, breathing life, moving with a live body, integrated and with peace of mind by being aware of that process called Ashtanga Yoga.

 There were five days where I again had the privilege of learning from this teacher that every year, shows why it is so respected in our Ashtangi community, because it presents a way to practice Ashtanga tipping all the myths that tend to be around this practice. There we practiced with respect for ourselves, in a sincerely, honestly, truthfully way. Thanks Peter!


terça-feira, 23 de junho de 2015

To me...Maybe to you...


Recebi a notícia ontem depois das aulas, fiquei com o olhar que acho que uma maioria de gente ficaria quando escuta do outro lado do tlm, que a Tia tal morreu. Pior, que a Tia tal, que não víamos há anos e que foi tão importante para nós e para a nossa família em determinada altura, que tinha morrido, sem que a tivesse ido visitar.

Achei que não estava tão mal, achei que havia tempo. Achei que no dia que fosse, que se iria rir, porque olharia para o meu rosto e para a mulher que sou hoje e se recordaria da criança de 4, 5, 6 anos que corri pelos corredores da sua casa, que a chamava de Tia, mesmo que fosse uma tia emprestada. Quando recebi a notícia, fiquei ali sentada dentro do carro, em frente ao portão da escola, a lembrar-me do seu rosto, da luz que imanava, de levar os seus três filhos, eu e o meu irmão no seu Fiat Uno azul para a praia do Castelo. De irmos para ali todos ao "molhe", não havia cadeira para as crianças, não havia regras dos cintos de segurança, eram outros tempos, eu era a mais pequenina de eles todos e lembro-me como tudo aquilo me fazia feliz, ria-me muito, alegria de criança pequena, em dias de pleno Verão e praia.

Andei pelo dia de ontem com a Tia emprestada na cabeça, meia com a sensação estúpida de me sentir mal por não a ter ido visitar, por nem sequer saber que a doença que tinha era  Leucemia e que há um ano que frequentava o IPO, de não ter perdido uma tarde para ir vê-la, porque na inocência de quem nunca esteve doente e de quem nunca teve pessoas amigas, familiares chegados doentes, não prevê ou não quer prever que a doença existe e que a morte chega sem datas pré-estabelecidas.

Ensinei a turma da tarde e arrumei tudo para ir despedir-me da Tia emprestada, agora já sem hipótese de se ir rir quando observar a mulher que sou hoje. Quando lá cheguei estavam os meus pais também, procurei os filhos da Tia, encontrei a primeira e apresentei-me, disse - Sou a Vera. Ela ficou a olhar para mim, com o  rosto de quem não faz a mínima ideia de quem sou, olhos de choro, misturados com serenidade,  eu disse, a Filha da Laura, ela sorriu no momento seguinte e respondeu, como eu esperava que seria a resposta da sua mãe, "estás uma mulher, já não és a menina pequenina!" A resposta dos outros irmãos foi igual e do Tio emprestado também, que me abraçou e andou comigo pelo velório como se eu ainda tivesse 5 anos.  Foi comovente reencontrar aquelas pessoas, mas acima de tudo de despedir-me da Tia emprestada que me recebi em sua casa depois da escola, que me mimava, que me levava para a praia no seu Fiat Uno, que era uma Tia para mim e para o meu irmão, uma amiga para a minha mãe e pai.

Hoje quando subi ao meu tapete, depois da aula da manhã, estava com sono, cansada, da noite mal dormida, mas dei oportunidade a mim mesma de fazer alguns Surya Namaskar, só para sentir o meu corpo. Deixei a respiração fluir e lá fui fazendo uma primeira série. Não pratiquei sozinha, não quis, porque trouxe a minha Tia emprestada no coração e na mente,  há pessoas que não vemos por anos, mas que têm intensa importância e mesmo depois da morte, as recordações e impressões que criaram na nossa vida permanecem.

Que me sirva de lição, talvez que vos sirva de lição por toda esta experiência, quando alguém estiver doente, que eu não fique na comodidade do meu dia-a-dia, à espera da altura certa para visitar e  mimar essa pessoa. Porque depois pode ser tarde, já não poderei dizer uma graça, dar um abraço, contar alguma coisa que ajude um pouquinho, por um instante a diminuir a dor e o incomodo que estão a viver.


EN
I received the news yesterday after class, I got the look that I think a majority of people would have when they listen in the other side of the cell phone, that such Aunt died. Worse, that that such Aunt we have not seen for years and it was so important for us and for our family at certain particular time, who had died without we had gone to visit.

I thought she was not so bad, I thought there was time. I thought that the day i went, she who would laugh, because would look at my face and the woman I am today and remind  of the child of 4, 5, 6 years running through the corridors of her house, who called her Aunt even if it was a borrowed aunt. When I received the news, I sat there in the car, in front of the school gate, to remind me of her face, the light that she has, remind when she took her three children, me and my brother in her blue Fiat Uno to the Castelo Beach. We would go in the car all mixed,  there was no chair for children, there were no rules of seat belts, were different times, I was the smallest of them all and I remember how all this made me happy, i would laugh so much,  the joy of a small child, living summer and beach.

I lived yesterday's day with my borrowed Aunt in the head, with the stupid sense of feel bad for not having gone to visit, for not even know that the disease she had was leukemia and that she was a year ago going to the IPO, not to have lost an afternoon to go see her, because in the innocence of those who have never been sick and who never had friendly people, close relatives sick, does not foresee or not to foresee that the disease exists and that death comes without pre-dates established.

I taught the class in the afternoon and arranged everything to go say goodbye to borrowed Aunt, now she didn t have the chance of going to laugh when she see the woman I am today. When I arrived there were my parents too, i looked for  the children's aunt, found the first and introduced myself, said - I'm Vera. She stared at me, with a face that looked like who didn't have a clue who I was, crying eyes, mixed with serenity, I said, Laura daughter,  right in the next moment she smiled and answered, as I hoped it would be the response of her mother, "you're a woman, you are no longer the little girl!" The response of the other brother and sister were equal and borrowed Uncle too, who hugged me and walked with me in the funeral as if I still had five years. It was touching, to rediscover those people, but above all to say goodbye me borrowed Aunt that received me at her home after school, which spoiled me, leading me to the beach in her Fiat Uno, which was an aunt to me and my brother, a friend to my mother and father.

Today when I went on my mat, after the morning class, i was sleepy, tired, from a sleepless night, but I gave myself the opportunity to make some Surya Namaskar, only to feel my body. I allow the breath flow and did my first series. I didn't Practiced alone, i didn t want to, i brought my borrowed Aunt in my heart and mind, there are people who we do not see for years, but has intense importance and even after death, memories and impressions that they created in our lives remain.

It may serve me a lesson, perhaps it may serve you a  lesson throughout this experience, when people are sick, that I did not stay in the comfort of my day to day, waiting for the right time to visit and pamper this person. Because then it can be late, I can not say a fun thing, give a hug, tell something that helps a little, for a moment lessen the pain and discomfort that they are living.


terça-feira, 2 de junho de 2015

...HAPPY NEWS!

Abri a porta da escola para mais uma aula da tarde e ela foi das primeiras a entrar, ofereceu-me um sorriso e disse com olhos de alegria, "Fui ao meu Osteopata e ele disse que estou muito melhor, que o Yoga estabilizou a hérnia!" Eu sorri-lhe de volta e por  dentro fiquei feliz com as boas notícias.

A casa estava composta, mas entre ajustes, reparei na sua prática, está quase a terminar a Primeira Série, de vez em quando tem de fazer algumas variantes, caso sinta alguma compressão, ou alguma tensão, ou incomodo, é o nosso pacto. Mas ela respeita as directrizes e os limites do seu corpo, respira, nota-se que faz o esforço para se focar no que está ali a fazer. É tão especial quando as pessoas chegam cá a casa com problemas,  e pela prática vão encontrando uma forma de harmonia, uma nova forma de sentir o seu corpo, livrando-se de dores, superando incomodos sejam físicos, mentais e emocionais.

Há pouco tempo, recebi outro desabafo, surpreendeu-me, porque é uma mulher nova, mas a idade não conta nestas coisas, nos tempos de hoje, onde tudo tende a ser rápido, instantâneo, superficial. No final da aula, no quarto de vestir, eu estava a arrumar uns tapetes e uns cobertores, ainda haviam outros alunos a praticar, mas perguntei-lhe, "correu bem? tens-te sentido bem com a tua prática?" Ela disse-me a olhar directo nos meus olhos, "Isto faz-me tão bem, Vera! Tenho tido imensa ansiedade e mesmo ataques de pânico e quando comecei a praticar aqui, as crises têm sido menos frequentes. Eu respondi-lhe, quando começares a sentir que estás ansiosa no teu dia-a-dia, lembra-te desta respiração que fazes aqui. Senta-te em algum lado e só sente a respiração, a entrada de ar e a saída. Vê se ajuda." E deixei-lhe um sorriso e um piscar de olhos. Ela devolveu-me o sorriso e saiu devagarinho.

Estes dois exemplos são apenas alguns, há tantos outros, onde a prática de Ashtanga entra como forma de conexão entre o nosso corpo e a nossa mente e cria mudanças no nosso estilo de vida, na maneira como vivemos, sentimos e pensamos. Na maioria das vezes, parece-me que, são mudanças positivas, onde acalmamos, onde caminhamos mais certos do que andamos para aqui a fazer.

Boas práticas!
*foto de Vera Sepúlveda.

EN
 I opened the school door for another class in the afternoon and she was the first to come in, offered me a smile and said with eyes of joy, "I went to my osteopath and he said I'm much better, that Yoga stabilized the hernia " I smiled her back, and  inside and I was happy with the good news.

The house was quite full, but between adjustments, I noticed in her practice, she is almost finishing  First series, from time to time she have to make some variants, if she feel any pressure or any strain or discomfort, it's our pact. But she respects the guidelines and the limits of her body, she breathe, and you can see that she makes the effort to focus on what she is doing. It's so special when people  come in to this home with problems and with the practice they find a way to harmony, a new way to experience their bodies, getting rid of pain, overcoming difficulties whether physical, mental and emotional.

Not long ago, I received another comment,  surprised me because it is a young, but age does not count in these things, in today's times, where everything tends to be quick, instant, superficial. At the end of the lesson, in dressing room, I was packing some rugs and some blankets, there were still other students practicing, but I asked her, " it went well? have you been well with your practice?" She told me directly looking into my eyes, "This makes me so well, Vera! I have had immense anxiety and even panic attacks and when I started practicing here, the crisis have been less frequent. I told her, when you start feeling that you are anxious in your day-to-day, remember this breath  that are you doing here. Sit down somewhere and just feel the breath, the air coming in and out. See if that helps."And I left her a smile and a eyes wink. She gave me a smile and walked out slowly.

These two examples are few, there are many others where the practice of Ashtanga comes as a form of connection between our body and our mind and creates changes in our lifestyle, the way we live, feel and think. Most of the time, it seems to me that are positive changes, which calmed us down, where we walk more certain of what we doing here, in life.

Happy practicing!
* photo by Vera Sepúlveda.