sábado, 20 de fevereiro de 2010

Savasana ou apenas descontracção?


O Savasana, em sânscrito significa postura do cadáver e Sri K. Pattabhi Jois costumava dizer que esta era das posturas mais difíceis para os alunos, pois implica não estar acordado, nem a dormir.

A postura é feita normalmente deitada de costas no chão, com as pernas afastadas ligeiramente, os braços ao longo do corpo com as palmas das mãos dirigidas para cima, o pescoço alinhado com o resto da coluna, permitindo que o rosto esteja também orientado para cima e os olhos devem estar encerrados, tem o objectivo de induzir o corpo e a mente num estado de relaxamento e descontracção.

O Ashtanga Vinyasa Yoga, ao contrário do que já escrevi, não inclui Savasana. Ás séries de posturas é apenas agregado um tempo de descontracção, ou relaxamento. Estes tempos e exercícios, não chegam a ser Savasana, no entanto têm uma enorme importância para que o praticante consiga sentir ainda mais os benefícios do Yoga.

Acredita-se que uma prática de Yoga só está completa quando existe este tempo de descontracção ou relaxamento, pois o corpo precisa de tempo para interiorizar toda a informação que aconteceu durante a aula. Este tempo, não existe para que o aluno adormeça ou que pense na sua vida, mas sim é uma altura onde este deverá se manter presente e mesmo que surjam distracções, pensamentos, ou que a nossa imaginação nos conduza para outro lugar, deveremos identificar esses pensamentos e emoções e com consciência optarmos por nos deixarmos estar, simplesmente estar. E claro é aqui que se encontra a dificuldade, o estar, o estar sossegado, quieto alguns minutos, o permanecer num estado neutro, sem darmos largas à nossa imaginação, aos nossos pensamentos, sem nos deixarmos adormecer.

Alguns alunos adoram esta altura da aula, a fase onde podem descansar depois de terem dobrado, rodado e torcido o corpo nas mais variadas posturas e outros encaram a descontracção como um verdadeiro pesadelo, onde os poucos minutos de descanso são uma tortura, a simples ideia de estarem 5 minutos quietos, sem se mexerem é vista como um desafio impossível e muitas vezes nem os olhos conseguem manter fechados, tem de olhar para o tecto, olhar para os colegas ao lado, mexer as mãos, bater com os dedos no chão como se procurassem desesperadamente uma tábua de salvação, para se distraírem deles mesmos.

A maior parte de nós vive num mundo de distracção caótica e total, sem se conseguirmos criar uma conecção com o corpo, com a mente, com alma, Patanjali afirma que esta é uma das formas de AVIDYA, ou seja ignorância. Utilizamos a distracção para evitarmos a ligação entre o nosso corpo e a nossa mente, para evitarmos tomar consciência ao que realmente sentimos e pensamos.

A descontracção no final da aula, é uma altura onde guardamos a energia criada pela prática no nosso corpo, sem este tempo, esta energia encontraria uma forma de sair de dentro de nós, o que nos deixaria com uma sensação de exaustão física, mental e emocional. A prática de Ashtanga Vinyasa Yoga, por mais forte que seja, não tem o objectivo de nos deixar cansados, mas pelo contrário quando feita devagar, segundo o nosso ritmo respiratório, fluidamente e graciosamente e com relaxamento no final, tem o potencial de nos deixar revitalizados e tranquilos.

* Descontracção, workshop de Tomaz Zorzo, 2004, Casa Vinyasa Açores

1 comentário:

Mírzan disse...

Pessoal,

Meu nome é Mírzan e sou praticante de Ashtanga aqui no Brasil. Quero parabelizalos pelo belíssimo blog. Adorei a idéia e estou postando um comentário aqui no Savasana só para dizer que essa postura é de extrema dificuldade para mim. É sempre muito difícil se permitir entrar em um estado físico e de consciência com o qual não estamos habituados. Bem, parabéns novamente e boas práticas.
Abraço.