terça-feira, 24 de março de 2015

LET IT GO!

Ás vezes é preciso entrar num avião atravessar oceanos e aterrar noutro continente para entender o que até já tinha sido sentido, mas por razões obvias para mim, ocultas para vocês, decidi não prestar atenção e manter.  Até vir esticar o tapete numa nova sala, dentro de uma outra comunidade Ashtangi, sob os olhos de uma outra professora, conhecedora da minha história de vida e de prática, para encaixar à primeira, algo que acontecia na prática como sinónimo do que estava acontecer no meu quotidiano.

 Pois bem, ali estava eu no meu segundo dia de prática, contente porque no dia anterior voei no tapete, talvez fosse do Jet Lag, de ter dormido pouco, ou simplesmente porque o coração estava cheio pela alegria de estar aqui, de ter estas tão desejadas férias do trabalho, da felicidade de estar a praticar nas aulas de uma amiga, de receber ajustes e dicas, tudo isto deve ter ajudado a sentir-me a voar sobre o  tapete entre cada postura e respiração da 1a série. E estava agora a fazer 2a série, no respira respira, entra na postura, segura o bandha, mantém o drishti, saí no vinyasa correcto, tudo indo, fluindo, mente focada e o coração cheio por estar aqui sob a observação desta professora, amiga, companheira de Mysore. Até que cheguei às minhas posturas desafio, enquanto estava a entrar na primeira, senti a presença da professora ali perto, quando me ajustou, pareceu que disse, Respira Amiga!, naquele seu português com sotaque dançante. E eu lá em baixo pensei, Estou a respirar minha amiga, no meu português que não tem ritmo nem ginga.O seu ajuste é forte ou não fosse ela aluna de Sharath, manteve-me ali mais tempo, o que me obrigou a escutar realmente o que me tinha dito antes, não disse Respira, disse EXPIRA! Voltou a repetir, e eu pensei, outra vez no meu português sem samba, Estou a expirarrrr! Quando saí da posição, ela estava ali ao lado e falou baixinho, Amiga tem de expirar, tem de LET IT GO, afirmou mesmo em inglês mas manteve o sotaque dançante. Você está a inspirar direitinho, mas estou vendo que você expira curto, está aí a reter o quê? Tem de LET IT GO! E foi embora e eu continuei a praticar, com uma nova moeda no bolso, se é que me permitem a expressão, há meses que me vejo assim, inspirações profundas e expirações mais curtas e rápidas, como quem guarda alguma coisa cá dentro. Fiz o resto da prática a tentar sentir a respiração de mais perto, tentar dar espaço para a expiração. No fim descansei com a frase dela na mente, você tem de LET IT GO! EXPIRA! Voltei do descanso com a frase em mim, como se fosse agora um mantra, onde a minha mente assentou e ficou. O resto do dia passou, conheci mais uma praia, surfei duas vezes umas ondas engraçadas, caminhei pela Lagoa, todo um dia de como quem está de férias e quer aproveitar cada instante com tempo, com serenidade, e em todos estes momentos a mente voltava sempre ao tal do LET IT GO!

 No final do dia, pareceu que tinha saído um peso de cima de mim ou de dentro de mim, e no dia a seguir, o terceiro da semana, estiquei o tapete, com a mente focada nas fases da respiração, com a devoção em praticar o que sempre me ensinaram mas que por razões que para mim são obvias e para vocês desconhecidas, perdi por querer guardar o que não queria largar.  E lá vieram as minhas posturas desafiantes e lá veio o padrão de querer expirar mais rápido e a oportunidade de  fazer diferente, de LET IT GO, num inglês falado, mas dito com paixão brasileira e sentido por esta mulher portuguesa.


Obrigada Kaká.
Obrigada Ashtanga Yoga Floripa.

*******Sometimes you need to get on a plane to cross oceans and land on another continent to understand what I had already been felt, but for obvious reasons to me, hidden for you, i decided not to pay attention and hold it until i extend my mat in a new room within another Ashtangi community, under the eyes of another teacher, that knows my practice and life story, to understand right there,
 something that happened in my practice as synonymous with what was happening in my everyday life.

 Well, there I was on my second day of practice, happy because the day before I flew on the mat, maybe it was the jet lag, having slept little, or simply because the heart was filled with joy to be here, to have these desired vacation from work, the living happiness to practice in the classes of a friend, receiving her adjustments and tips, for sure all this helped to feel flying on the mat between  each first series postures and breathing. I was now doing second series, breathe breathe, entering in the postures, holding the bandhas, keeping the drishtis, leaving the poses with the correct vinyasa, everything going, flowing, mind focused and heart full to be under the observation of this teacher, friend, Mysore companion. Until i got to my challenge poses, right when i enter on the first, i felt the presence of the teacher nearby, when she adjusted me, it seemed that said, Breathe my friend!, wiht that dancing portuguese accent. And i thought down there, I´m breathing my friend, in my no rhythm or melody portuguese accent. Her adjustment is strong, as she is Sharath student, she kept me in the pose longer, which forced me to really listen what she had told me before, it wasnt Breathe, she said EXHALE!She repeated again, and i thought, again in my portuguese without signs of samba, I´m Exhaling! When i left the pose, she was next to me and spoke softly, My Friend you have to exhale, you must LET IT GO! she even said this in English but still kept that dancing accent. She told me, you are inhaling all right, but i see your exhalation short, what are you retaining there? You must LET IT GO! And she went away, and i continued to practice with a new coin in my pocket, if you allow me this expression, for months i kept deep inhalations and quick exhalation, as if to mantain something inside me. I did the rest of the practice trying to closely feel the breath, making space for the exhalation. I rest with her phrase in my mind, You have to LET IT GO! Exhale!I made the rest with this sentence in me, as if it was a mantra now, where my mind seat and stayed.

The rest of the day passed, I met another beach, surfed twice some funny waves, walked by the pond, a full day like those people on holidays, that want to enjoy every moment with time, calmly, and in all these moments the mind always returned to that such LET IT GO!


 Later in the day, it seemed that i had lost weight of me or inside me, and on following day, the third of that week, i stretched the mat, with my mind focused on the breathing stages, with devotion in practicing what i always learned but for the reasons that are obvious to me, and unknown to you, i lost for wanting to keep what i did not want to leave. And then came my challenging postures, and there it came the pattern of exhaling faster and also it came the opportunity to do different, LET IT GO, spoken in english, but said by a brazilian passion way and felt by this portuguese woman.



Thank you Kaka.
Thank you Ashtanga Yoga Floripa.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Ashtangis and their children...



É engraçado de pensar como a nossa comunidade tem crescido, ensinei  mulheres que não eram mães e depois acompanhei a gravidez de tantas de vocês, e os anos passam e temos este um conjunto de mulheres inspiração, que são mães, que trabalham e são praticantes dedicadas. Umas já eram antes de serem mães, outras encontraram o Ashtanga quando estavam grávidas pela primeira vez, outras iniciaram uns meses depois dos partos, toda uma variedade de histórias de gente que faz parte desta casa.

É sempre com alegria que recebo  uma de vocês que traz um dos vossos filhos para a aula, alguns deles vêm porque pediram muito, que queriam vir ao Yoga com as mães, outros são trazidos porque vocês não têm opção, e ou elas vêm ou vocês não podem praticar.

Quase todos ficam entretidos com livros, com canetas para pintarem ou outros jogos,  mas quase todos acabam por realmente se entreterem, a ver o que se passa dentro da sala de prática.
A porta está sempre aberta, e entre ajustes lá vou reparando na cabecinha deles timidamente a espreitar, quando lhes faço sinal que podem olhar, apropriam-se à entrada e deliciam-se com a observação, ora para mim e no que faço a cada aluno, ora para as vossas habilidades e competências em cima do tapete, ora para outro praticante. E vão passando por aquela hora e um quarto sem mostrarem sinais de aborrecimento, e com olhos de assistirem a um espectáculo, pelo menos diferente. De quando em quando levantam-se e esticam-se e riem-se e depois lá voltam para a entrada para continuarem a ver, muito concentrados, o que se passa para ali. Pisco-lhes os olhos e eles sorriem, e quando ajusto os vossos corpos, muitos erguem-se para melhor verem. Já sei de algumas conversas que eles fazem com vocês, e no que dizem sobre o Yoga, que muitos querem praticar, mesmo os mais pequeninos, mas o melhor mesmo, é que quando saem daqui, têm ao seu lado, mães mais felizes.


*******It's funny to think how our community has grown, i taught women who weren´t  mothers and then i followed the pregnancy of so many of you, and years go by and we have this set of women inspiration, who are mothers, who work and are dedicated practitioners. Some were already before having children, others found the Ashtanga when they were pregnant for the first time, others began a few months after the birth, a whole variety of stories of people that is part of this house.

It is always with joy when I receive one of you that brings one of your children to class, some of them come because they asked to, they wanted to go to yoga with their mothers, others are brought because you have no choice, and or they come or you can not practice.

Almost everyone is entertained with books, pens to paint or other games, but almost all end up really entertain, by seeing what goes on inside the practice room. The door is always open, and between adjustments i notice the little head peeking shyly,  when I make them a sign that they can look, they appropriated the entrance and delight with the observation, for me and to what I m doing to every student, or for you and to your abilities and skills on the mat, or by watching another practitioner. And  they go through that hour and a quarter without showing signs of annoyance, and watching a show, that is at least, different. From time to time they get up and stretch up and laugh and then their back to the entrance to continue to see, very concentrated, what goes in there. I blink my eyes to them and they smile, and when I m adjusting your bodies, many rise up to better see. I know a few conversations they do with you, and what they say about Yoga, that many want to practice, even the little ones, but even better is that when they leave here, they have at their side, happier mothers.