quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Com ou sem crenças...


Dentro desta sala coexistem diferentes pessoas, com corpos, mentes e crenças diferentes. Lado a lado praticam, alguns trocam sorrisos no inicio da aula, outros mostram-se frios e focam o olhar em frente, como se não existisse ninguém ao seu lado, uns lançam um olhar de piedade e compaixão, quando outro geme de dor ou de esforço, outros comportam-se como se estivessem numa corrida, o primeiro a chegar ganha, mesmo quando não existe no Yoga nenhuma regra de concorrência ou competição, há ainda aqueles que se namoram entre uma postura e outra, há também os que são amigos de sempre e que lá vão trocando risos às escondidas do professor e até existem alunos que são parentes, irmãos, pais e filhos, avós e netos, que praticam sempre lado a lado e enaltecem o elo familiar... a descrição dos alunos poderia continuar, dentro de uma sala de aula encontra-se de tudo e tudo é o reflexo da personalidade de cada um. Como se comportam em cima do tapete é como se comportam na vida e a hora ou hora e meia de prática de Yoga, mais cedo ou mais tarde, irá mostrar como realmente são, apresentando até aqueles aspectos que nunca conheceram ou que nunca quiserem conhecer.


Uns dobram-se mais e outros são mais rijos, uns conversam consigo mesmo durante toda a prática, em pleno diálogo mental, quase que fazem a lista das compras ou repensam no que irão cozinhar para o jantar e pelo contrário encontramos os que se focam na respiração e geram tanto calor, que conseguimos ver gotas e gotas de suor a escorrerem-lhes pela cara, uns já acreditam nos benefícios da prática e outros ainda estão na fase de a testarem, uns anseiam por chegar há terceira série de posturas do Ashtanga Yoga mas outros, não têm expectativas quanto às posturas... as motivações são diferentes, porque as pessoas são diferentes.


Mas além de todos estes aspectos, há ainda dentro desta sala, cristãos, judeus, protestantes, etc. Ninguém sabe da crença religiosa um do outro, bem como da crença política, mas ali estão, lado a lado a praticarem Yoga, apesar das motivações, apesar da habilidade física e foco mental, ali estão a desenvolverem um pouco mais o conhecimento e consciência sobre o seu corpo, a sua mente e a sua alma. Não importa as diferenças, mas sim o que lhes é comum.


(Em plena aula de Mysore, fui escutando fora da sala, uns barulhinhos, cheguei perto da porta e reconheci uma das alunas que já tinha acabado a prática, estava sentada no sofá da entrada, de frente para as fotos do meu Guruji, Shi K. Pattabhi Jois e do meu professor Sharath Rangswamy, bem como para as estatuetas de Shiva, Ganesha e Hanuman. Continuei a dar aula e os sons continuavam lá fora, cheguei mais perto da porta e percebi que esta aluna, que não é portuguesa, estava a rezar baixinho, na língua dela, que não é o português. No final da aula, quando ela ia a sair, despedi-me e reparei em duas medalhas que trazia ao pescoço, uma identifiquei logo como Jesus Cristo, a outra pressumi que seria de um santo. Desliguei as luzes da sala e também me sentei no sofá da entrada e constatei que uma escola é mesmo isso, um lugar onde pessoas de diferentes crenças, católicos, hindus, ateus, etc se juntam, por algo que lhes é comum, que é a prática. E embora a prática de Yoga, seja oriunda da Índia, país maioritariamente hindu, não significa que tenha de ser praticada apenas por hindus, ou por indianos, todos podem e devem praticar e nem por isso têm de deixar de lado o que acreditam!)

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