segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Beyond pain


No fundo do túnel há sempre luz, basta acreditar, encher o peito de ar e caminhar passo a passo com confiança, perdendo tempo em sentir tudo, sem medos, sem pressas, sem dúvidas. O mesmo se passa em cima do seu tapete, pise-o todas as manhãs, sinta-o debaixo dos seus pés e com a respiração, faça cada uma das posturas que aprendeu. Garanto-lhe que haverão dias que irá sentir dores, outros em que sentirá pequenos incómodos de um corpo mais fechado, mais rijo, noutros o seu coração mostra-lhe outro género de bloqueios, os emocionais e talvez haja necessidade de largar uma ou duas lágrimas, ou talvez mais. Também lhe asseguro que existirão dias que a sua cabeça viajará para todo o tipo de pensamentos, ora rumo ao seu passado, ora rumo ao seu desejado futuro, práticas que recordará como difíceis, mas no final, serão estas as que mais nos ensinam.

Na prática de Ashtanga Vinyasa Yoga também existem os dias fáceis, onde o seu corpo está aberto, flexível, forte, a sua mente está focada na respiração, nos dristhis, a disciplina de ter repetido a prática dia após dia lhe traz o sthira sukha das posturas, que o permitem fluir num ritmo intimamente seu, para uma realidade, que não se consegue bem explicar por palavras, mas é algo onde o nosso corpo reconhece a nossa mente e em conjunto, vivem com o nosso coração num estado único de paz.

Parece contraditório falar de dores e escrever sobre Yoga, parece um oposto, já que o Ashtanga Vinyasa Yoga utiliza a respiração com os movimentos e posturas para chegar ao controlo do corpo e posteriormente ao controlo da mente. É um sistema progressivo, onde a primeira série de posturas permite uma desintoxicação do organismo e um realinhar do corpo, a segunda sequência prima pela purificação do sistema nervoso e as terceiras séries, as Sthira Bhaga, são tidas como sequências que orientam o praticante para um maior estado de equilíbrio e comunhão. Esta é uma prática gradual, o método não tem por objectivo que o praticante faça a primeira série ou a quarta, o caminho é a aprendizagem sincera, dedicada e longe de expectativas.

Muitos são os praticantes que falam em dores, mas também reconhecem que essas mesmas dores foram provocadas pelo seu desejo de avançarem em determinada postura, por forçarem o corpo, ou pela falta de atenção na hora de praticarem. Se estivermos a acender o fogão com um fósforo e a olhar para o lado, o mais normal será nos queimarmos, o mesmo acontecerá no seu mat, a repetição das posturas, não deve ser feita de forma mecânica, cada respiração e movimento têm de ser sentidos e vividos, Yoga não é exercício físico, embora tenha benefícios para o seu corpo.

Há ainda outro tipo de dores, aquelas que acontecem porque o corpo está a realinhar. Imagine que a sua cabeça é uma bola de bólingue, pesada, redonda, uns desvios para a frente ou para trás, irão com toda a certeza trazer-lhe dores no pescoço, etc. Enquanto o corpo passa pelo processo de realinhamento e depois de anos a manter uma postura incorrecta, é normal que sinta algum desconforto ou dor. O que deve ter presente, é não forçar, respirar correctamente e ter paciência, porque ao fundo do túnel há mesmo luz.

Sejam dores físicas ou dores emocionais, tenha paciência, reconheça os seus limites e devagar, sem expectativas, mas com fé, especialmente em si, pratique. Lembre-se da respiração, sem respiração não há Yoga, nem há asana (postura).

1 comentário:

Amanda disse...

às vezes a pratica não se restringe só aos momentos que estamos no tapete, todas as manhãs, todos os dias... mais do que uma rotina para aquelas 2 horas de concentração de mente e corpo, a pratica deve expandir-se para todos os aspectos da vida e do dia-a-dia. mais do que uma ou seis séries, conseguir aplicar os princípios do yoga e da pratica a cada momento do dia é um desafio e esforço interno profundos (a "dor" não tem que ser necessariamente física e muitas vezes é subtil sobre os nossos valores e princípios). com uma pratica regular e sincera, esta expansão acontecerá naturalmente.

boas práticas,
Amanda