A prática de Yoga serve como um reflexo de nós mesmos, como uma espécie de espelho que reflecte a nossa maneira de ser, de estar, de pensar e sentir. De início é um espelho sujo, manchado, que tem a capacidade de nos iludir, de esconder determinados ângulos, de ocultar pontos específicos que são constituintes da pessoa que somos ou que nos tornámos. Prática a prática, dia após dia, semanas seguidos de meses e anos, acabam por permitir que o espelho fique mais limpo, mais claro, mais visível e por isso, mais fácil de compreender o que deveremos mudar e o que precisamos de enaltecer. Este processo lento e doloroso, é também, altamente compensador e extremamente pacificador, remete-nos para um caminho de amor e paz connosco mesmos e para com os outros.
Mas seria hipócrita e amplamente falso, escrever, que o Yoga nos torna seres perfeitos, sem defeitos, sem espinhos, verdadeiros deuses na terra. Pode-se afirmar que a prática regular nos faz conectar com o nosso corpo, compreender melhor os estados da nossa mente e que gradualmente, abre as portas do nosso coração, mas esta descrição, não surge de um dia para o outro e muitas vezes nem sequer acontece. Para alguns praticantes de Yoga, a mudança ainda está muito longe, a vivência de uma tranquilidade inabalável é um verdadeiro mito, uma utopia digna dos grandes clássicos.
Este estado de amor e paz não é permanente, não se conquista como se fosse um prémio, exige muita dedicação, sacrifício e mesmo por estes, nem sempre conseguimos vivenciar esta realidade tão pouco concreta, que não é palpável, mas que existe, nem que sejam em breves instantes, enquanto mantemos qualquer uma das posturas, reconhecemos a nossa respiração, focamos os olhos num determinado dristhi, sentimos o silêncio que advém de dentro de nós e a inerente tranquilidade.
Prática a prática coleccionamos momentos, pequenos segundos onde saboreamos o estado de Yoga e mesmo para os "normais", como eu, ou como tu, ou como vocês, que sentimos que praticamos há tanto tempo e que o corpo continua fechado, a mente teima em ser ansiosa, o coração sofre pelas oscilações do Feliz e do Infeliz, do Fácil e do Difícil, à que recordar, que somos humanos e se para alguns é tão simples experienciar paz, para outros é mais complicado e dependerá de mais tempo. Nada como continuar a praticar, sem aspirações a prémios, ou expectativas, apenas com a sincera ideia que nos sentimos bem com este Yoga, que nos conforta e nos dá força, para vivenciarmos aqueles instantes, que vamos acumulando como oportunidades únicas de sentir tranquilidade e paz.
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