domingo, 1 de março de 2009

Patanjali


Todos o tipos de yoga praticados hoje, são baseados nos Yoga Sutras, uma colecção de aforismos, escritos pelo sábio indiano Patanjali, há mais de 2000 anos. O reconhecido mestre B. K. Iyengar, no seu livro " Light on the Yoga Sutras", afirma que segundo clássicas e antigas lendas, acredita-se que Patanjali viveu entre 500 e 200 D.C., é referido como um SVAYAMBHU (uma alma que encarnou por escolha própria para poder ajudar a humanidade).
Patanjali assumiu a forma humana, experienciou os nossos sofrimentos e alegrias e aprendeu a superá-los. Os Yoga Sutras, não são mais que a descrição das formas de superar as aflições do corpo e as flutuações da mente, os obstáculos ao desenvolvimento espiritual.
Os 196 Sutras de Patanjali - são palavras directas, originais, precisas e concisas, sendo tradicionalmente vistas como palavras divinas. Estes aforismos relatam os aspectos da vida humana, foram escritos para retratar o caminho para a sabedoria, para a liberdade, para o auto-conhecimento. A realidade é que os sutras de Patanjali têm mais de 20 séculos e continuam actuais, fascinantes e absorventes. Patanjali mostra um conjunto de ideias para guiar o praticante de Yoga em direcção à liberdade. Estão divididos em 4 capítulos, o Samadhi Pada (o caminho para a contemplação); Sadhana Pada (a prática); Vibhuti Pada (as propriedades ou poderes) e Kaivalya Pada (a emancipação ou liberdade). No fundo mostra-nos que pela prática de Yoga, podemo-nos transformar, ganhar controlo sobre o corpo, a mente e as emoções, transpormos as barreiras para a nossa evolução espiritual.

*Shri T. Krishnamacharya

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

As conferências no Ashtanga Yoga Institute of Mysore



Normalmente a cada domingo, às 16.30, há conferência no Shala.
Agora quem fala é o Sharath, o neto do Guruji que com os seus 93 anos deixou de ensinar e por isso, o neto assumiu as suas funções. Quando entrámos no Shala, este domingo, estava completamente cheia de alunos, todos se sentam uns ao lado dos outros e aguardam que o professor comece a falar, o silêncio é total. Sente-se o respeito dos estudantes por aquele lugar e por Sharath. Depois de o professor iniciar a conferência, dá a oportunidade de os alunos lhe fazerem perguntas. Muitas vezes ninguém fala e ficamos todos em silêncio, noutras as perguntas surgem umas atrás das outras. Desta vez houve várias. Ele respondeu a todos com alguns exemplos e também algumas piadas. O mais importante foi que, o corpo só muda se a prática for regular, constante e diária. Se estivermos 1 mês, 2, 3, 4, 5, 6, etc a praticar 6x por semana, o corpo muda e com isso a mente muda. Não podemos ser preguiçosos, muitas vezes os alunos começam a praticar e ao se aperceberem o quão difícil é manter uma disciplina, atravessar os obstáculos físicos, mentais e emocionais, simplesmente desistem, assim nunca iram conseguir ter plena consciência do que são, plena liberdade e realização. O Ashtanga Yoga é utilizado para que nos libertar das limitações, dores, tristezas, angústias, para atingirmos um estado de leveza, tranquilidade, felicidade - no fundo de auto-realização. Ele acabou com esta frase "no pain no gain", ou seja, se não nos esforçamos não alcançamos nada.

* Sharath Rangswamy

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ashtanga Energy...




 Em grupo movimentam-se como se estivessem a fazer coreografias distintas. Postura atrás de postura, cada um no seu próprio ritmo respiratório molda o corpo e no entanto partilham o espaço, o ar e a energia. Com a respiração e os asanas criam energia que entra e saí de cada um, expande-se e difunde-se em cada corpo... 

* Aula Guiada, no KPJAYI em Mysore

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Algumas dicas

 Em qualquer livro de Yoga, seja de Ashtanga ou de outro método, estão descritos os inúmeros benefícios desta arte. No entanto, para haver benefícios é preciso ser regular na prática. Aconselhamos aos nossos alunos pelo menos 3x por semana, embora a prática deva ser mantida 6x por semana. Pela persistência e dedicação, a prática de asana começa a semear as bases para a meditação.

As posturas tornam o corpo leve, flexível, tonificado, ágil e resistente. Nota-se  gradualmente, um aumento da capacidade respiratória, aumento da circulação sanguínea, melhorias nos sistemas em geral, como o esquelético, o digestivo, o imunitário. Por correspondência a mente fica mais calma, lúcida e atenta. O nível de concentração  e foco mental aumenta. 


Podemoso afirmar, por experiência, que os benefícios são intensificados  se tiver uma alimentação correcta e um sono estável. Não proclamamos nenhum tipo de alimentação específica, até porque não somos nutricionistas. Apenas aconselhamos  uma alimentação que vá privilegiar legumes, cereais integrais, frutas, leguminosas. Uma boa fonte de proteínas é importantíssimo. Quem é vegetariano, terá de tomar mais atenção à compensação que faz por não ingerir carne. Não se esqueça de evitar açucares e fritos. E  jogue com a variedade e pouca quantidade. Uma boa dica, é usar as suas mãos como medida. Junte-as como se estivesse a fazer uma taça e tem a medida do que deve ingerir numa refeição. Se tem por hábito comer entre as refeições, utilize uma só mão e a medida é essa. Evite encher-se de comida. 
Quanto ao sono, tente deitar-se sempre pela mesma hora e encontrar o número de horas que o seu corpo precisa para descansar. 

   

Sharath e Saraswati Rangswamy




Sharath e Saraswati Rangswamy são o neto e a filha do Guruji e são também quem está à frente do novo KPAYI (Shri Krishna Pattabhi Jois Ashtanga Yoga Institute).  

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Escolas de Yoga versus Ginásios


Além de ensinarmos na escola também leccionamos em Ginásios e Health Clubs da zona. Fazemos-o para difundir o Ashtanga Yoga. Esforçamo-nos por ensinar da mesma forma como fazemos na escola, impondo disciplina e rigor. 


Só pelo olhar  conseguimos  perceber as  razões que motivam pessoas a participarem na aula. Estão no ginásio por indicação médica ou motivação pessoal, a maioria para perder peso e para se tornarem mais saudáveis. Ali temos à nossa frente pessoas que ou aparecem porque acabaram o treino e se querem alongar ou são aqueles que se estivessem na escola, seriam dos mais assíduos. Ou seja, temos os ocasionais e os assíduos. Porque são muitos, uns a começar e outros que já nos acompanham a algum tempo, temos de ter em atenção as necessidades, limitações, capacidades e expectativas de todos.
Repetimos em aula guiada na tentativa que as poucos venham a memorizar as sequências, as primeiras posturas de pé, depois as invertidas sobre os ombros e as finais. São 2 a 3x por semana a apelar ao alinhamento e à concentração na respiração. Depois dos primeiros meses e em prol dos alunos, dividimos a turma, uns continuam a fazer guiada e outros começam a fazer Mysore Style. Passado meses de aula guiada muitos deles, perdem-se nos Surya Namascar.

E isso intrigou-nos. Os nossos alunos da escola ao fim de umas semanas, já estão  em auto-prática. O que diferencia uns dos outros? As pessoas não são diferentes, porque também na escola temos os ocasionais e os disciplinados. Os que flirtam com a prática e aparecem de quando em quando e os que estão cá 3x a 6x por semana. Alguns inscrevessem por indicação médica,  por doença ou dor específica, outros querem emagrecer e ficar com o típico corpo Yogui, uns procuram uma forma de se manterem saudáveis, outros para aliviar o stress, enfim as razões são muitas. Mas o que diferencia os alunos de ginásio e os da escola? Porque uns aprendem mais rápido do que outros? Então lembrámo-nos do que os rodea. As aulas de ginásio são normalmente acompanhadas com o som estridente da música das aulas ao lado, o som do ar condicionado, a circulação de pessoas, a energia do espaço, dentro daquelas salas há aulas de " Yoga", de Body Pump, Body Jam, Body Balance, é uma misturada.

A energia dos lugares é fortíssima, acaba por nos influenciar. E enquanto no ginásio tudo parece incrivelmente light, incrivelmente superficial, incrivelmente corporal, na escola sente-se a energia da prática. O silêncio vindo de fora para dentro. A vontade de auto-superação está patente naquelas paredes, muito suor já caiu por aquele chão à custa de nos dobrarmos para a frente, para trás e para os lados, muito suor de desintoxicação física, mental e emocional e também algumas lágrimas. Talvez não sejam as pessoas, mas o lugar. O conceito destes sítios é o esforço fácil, é o rápido, é o ultra comercial, ultra social, é  o ultra estético. A escola é só um sítio simples para se praticar Yoga. Uma sala, um tapete. Um corpo, uma mente e uma alma prontos para se unirem. 

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Guruji


O nosso querido Shri K. Pattabhi Jois, nasceu em 1915, em Hassan, no sul da Índia.
Com 12 anos assistiu a uma demonstração de Yoga e no dia a seguir tornou-se aluno de Shri T. Krishnamacharya. Em 1929, Jois foge de casa para  ir para Mysore estudar Sânscrito. Passou fome, entre outras necessidades.

Por volta de 1930, ao assistir a mais uma demonstração de Yoga, reconheceu o seu professor, Krishnamacharya, com quem  retoma os  estudos.  Por esta altura, o Marajá de Mysore,  Krishna  Rajendra Wodeyar, estava gravemente doente e só Krishnamacharya consegue curá-lo através do Yoga. O Marajá, em agradecimento, abre uma escola de Yoga no Palácio de Mysore. 
Jois fazia muitas demonstrações para o Marajá, que posteriormente o chama para ensinar Yoga no Sanscrit College e em  troca recebe comida e uma bolsa para estudar Sânscrito.

O departamento de Yoga, no Sanscrit College, abriu a 1 de Março de 1937 ficando Jois na sua direcção até em 1973 (ano que se reformou). Após a morte do Marajá, 
Krishnamacharya parte para Madras (em 1941).   

Shri K. Pattabhi Jois  fica em Mysore e em 1948, com a ajuda dos seus alunos, arranja uma casa numa parte da cidade, Lakshmipuram, para onde vai viver com a sua mulher Amma e  os seus três filhos, Saraswati, Manju e Ramesh. É nesta casa que abre o Ashtanga Yoga Reseach Institute. 


Em 1964, Andre Van Lysbeth é o primeiro ocidental a  estudar com Jois, só mais tarde apareceram outros europeus e por volta de 1972 surgiram os primeiros americanos. Foi na América que o Ashtanga Yoga se começou a expandir, primeiro na Califórnia, depois no Hawai.

Pattabhi Jois ensinou durante todos estes anos e sempre o mesmo método. Foi um professor notável, com uma presença integra e inspiradora.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Living in Mysore


O intuito de irmos para Mysore (sul da Índia) é para estudar no Ashtanga Yoga Research Institute, com o Guruji e a sua família. Mysore fica no interior do estado de Karnataka.

Um dia típico começa assim: despertamos cedo, tomar banho, beber um café e ou alongar um pouco, são algumas das opcões. Em grupo, sozinhos, de mota ou a pé, encaminhamo-nos para a escola. Entrámos no Shala,  ouve-se a respiração dos que já praticam, sentamo-nos à porta, cumprimentamo-nos com um sorriso, sem abrirmos a boca. Dentro da sala assistimos ao Guruji a ajustar, podemos ouvir  a voz do seu neto, Sharath, a dizer " One more" ao terminar mais um backbending (one more - siginifca que um de nós vai entrar. Naquelas horas, eles não param e nós também, eles ajustam, ensinam e nós revesamo-nos...sai um, entra outro). Também Saraswati (a sua filha) ajusta, ali está a família no seu melhor! 

Sente-se o calor na sala, os corpos transpiram profusamente. O nível de prática é elevado. No tempo de espera, perdemo-nos na observação daqueles que se dobram para a frente, para trás, para os lados, cada um no seu ritmo, cada um na sua série. É estimulante vermos os praticantes, especialmente os avançados.

Quando temos a indicação para entrarmos, estendemos o nosso tapete no espaço solicitado e dirigimo-nos para o balneário, a onde deixamos os nossos pertences, também aqui estão praticantes fazerem as suas posturas finais e outros já descansam.

Subimos ao tapete e lá vamos nós, no primeiro Surya Namascar vemos e sentimos o corpo a escorrer suor. Uns dias, estamos soltos e leves, noutros o corpo está rijo.Uns dias a concentração ultrapassa barreiras, é  como se estivéssemos sozinhos na sala, nós e a nossa respiração. Noutros passeamo-nos pela mente, perdemo-nos em cada pensamento. Aqui fica representada a dualidade normal de quem caminha pelo Yoga. O fácil versus o difícil, o simples versus complicado, a flexibilidade face á rigidez, o cansaço sobre a energia e a  resistência, a concentração e o devaneio mental, a estabilidade emocional e o desequilíbrio, a paz e a guerra interior, a liberdade e a constante inquietação..

No final da prática, depois do descanso,  fazemos uma referência ao Guruji em sinal de respeito, passamos pelo Sharath e a Saraswati (que continuam a ensinar) e com as mãos unidas em frente ao peito, baixamos um pouco a cabeça em sinal de agradecimento. Abrimos a porta do shala e é de dia, cá fora vemos o Beg a cortar cocos e a servi-los aos praticantes, que vão bebendo a  água deste fruto enquanto confraternizam uns com os outros.  Cá fora ouvem-se línguas dos quatro cantos do mundo, vamos conhecendo praticantes de todos os lados. Passou  mais uma prática, mais uma aprendizagem.Depois do "convívio", subimos ruas ou descemos até casa, uns dias arrastamo-nos, de tão doloridos que estamos, chegamos a casa e deitamo-nos na cama ficando ali horas. De olhos abertos a olhar o tecto branco, ouvesse as vozes dos vendedores de rua e os gemidos das vacas que teimam andar por todo o lado, sentam-se em plena estrada, as buzinas e os ruídos das manobras dos carros e motas a contornar os obstáculos vivos, a ventoinha no tecto deixa circular algum ar fresco no quarto. E ali, ora de olhos abertos a escutar e a sentir, ora de olhos fechados a dormitar, vivemos intensamente a paragem da mente. Outros dias vamos energeticamente pelas ruas, sorrimos a todos, quase que não sentimos os pés a tocar o chão, como se voassemos. A felicidade e a leveza mantiveram-se e vêem connosco celebrar mais um dia... 

Mysore... Não há melhor lugar para se praticar Yoga. Não há melhores professores. Estamos ali, vivemos intensamente cada momento, como só a Índia nos permite. Mysore. Há quem lhe  chame a terra da felicidade, a terra dos sonhos... Para nós é a pausa merecida de tantas aulas que damos, de tantas horas a ensinar...em Mysore, somos novamente e só alunos!