quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Respirar, inspirar-se, sentir-se, escutar-se



"Respirar, inspirar-se, sentir-se, escutar-se."

A prática de Ashtanga Yoga pode ter várias definições, cada praticante terá a sua, cada um que a faz regularmente, ganha noções e conceitos a cada dia, os limites são inexistentes e o que serve de medidor é a forma como vivemos a vida, dentro e fora do nosso tapete. Passar por cima das dores, da angústia e ás vezes até da doença, contornar as armadilhas do Ego e da vaidade, não cair nos buracos da inveja, mesquinhez e do vazio de não sentir a alma, sorrir nos bons e nos maus momentos, acreditar que melhores dias virão e humildemente dar o nosso melhor em cada acção. Assumir que o caminho que trilhamos é fruto das nossas escolhas, da nossa responsabilidade e por isso, que sejam opções conscientes, tomadas por uma visão positiva, saudável, verdadeira, sem ficarmos presos aos medos, ás incertezas de um passado ou de um futuro.

Viver o instante, só temos este corpo, pelo menos neste mundo, então que vivamos aqui e ali, mas agora. Conduzir a nossa vida para algo com significado e entre um chaturanga, um urdhva mukha, um adho mukha, entre sentir a respiração, ora a inspiração, ora a expiração, observar o calor que produzimos, as gotas de suor a correrem pela face, pelos braços, pelas pernas, levar tudo isto lá para fora e fazer com que nos movamos com respeito, amor, amizade e acima de tudo, dignidade. Não uma dignidade produzida pelo o que está certo ou errado, mas uma dignidade que nasça na alma, uma que existe por escutarmos a nossa voz interna e em respeito com esta, moldarmos a nossa forma de ser.

A prática de Yoga tem muito que se escreva, os diversos métodos apoiam-se em técnicas diferentes e normalmente quem está ligado a uma vertente, tende a afirmar que esse é o caminho, o Ashtanga Vinyasa Yoga, não faz a ostentação de ser o melhor ou o certo, afirma que pelo o uso do Vinyasa, sistema que coordena respiração e movimento, o praticante consegue adquirir a destreza física, mental e emocional necessárias para a meditação e em última instância, para a libertação - moksha. O meio para chegar a este estado, é uma viagem interna a um universo, que não se encontra fora, mas dentro de cada praticante, são descobertas, que nos fazem pensar, sentir e agir de forma mais harmoniosa.

O Guruji, Shri K. Pattabhi Jois, afirmou que um dos aspectos mais importantes desta viagem interna, da purificação física e mental, era que libertava o coração do praticante, dos 6 venenos. Ele afirmava que o Yoga Shastra, dizia que "Deus"* existe no nosso coração como forma de luz, mas esta luz está escondida por 6 venenos: Kama(desejo); Krodha(raiva); Moha(ilusão); Lobha(ganância); Matsarya(inveja) e Mada(preguiça). A prática de yoga, mantida com regularidade e continuidade, por um longo período de tempo, permite que o praticante encontre formas de superar estes 6 venenos e que alcance um estado de luz, um estado de liberdade, de contentamento incondicional.

O Guruji não referia estes conhecimentos como meras formas mágicas para alcançar a iluminação, ele falava sim, de prática, não discursava sobre milagres, sobre sorte ou azar, mas proclamava que praticando Yoga, todos podemos alcançar um estado de maior comunhão connosco mesmos.

* esta referência a Deus, não significa que para praticar Yoga, se tenha de seguir qualquer tipo de religião, Deus pode significar o Macrocosmo, ou uma identidade superior que existe em cada um de nós.